|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Só se Deus fosse brasileiro
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - "Dar educação para o filho
do excluído, para que ele não se transforme num excluidinho."
É assim, num estilo carola e pretensamente didático, que o governo vem
tentando assumir a tese da disseminação da bolsa-escola pelo país.
O problema é que o PT chegou primeiro. A idéia começou com o governador Cristovam Buarque em Brasília, encontrou seguidores em alguns
municípios e evoluiu para um programa de renda mínima que é a obsessão
do senador Eduardo Suplicy.
O projeto do Planalto é mais ou menos como o de Brasília, onde o Estado
paga uma espécie de mensalidade para as famílias que mantenham seus filhos menores na escola. Não custa
muito. Tem um efeito social enorme.
Já o projeto que Suplicy defende prevê uma complementação financeira
para as famílias que não atinjam um
patamar "x" de renda. Custa bem
mais. Mas tem um efeito social maior.
Pelo projeto do governo, o programa
é das prefeituras e a União só ajuda.
Pelo das oposições, o programa é federal, tem financiamento previsto no
Orçamento da União, e apenas executado pelos municípios.
E onde mora o perigo? No poder de
fogo eleitoral de projetos assim. O pretexto para a falta de consenso é técnico: quem paga a conta? A discordância, naturalmente, é política: quem fica com os louros nas eleições de 98?
É por isso que o governo fez malabarismos para recusar a proposta mais
abrangente de Suplicy e patrocinar
um projeto próprio, assinado pelo deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS)
e já modificado. Aprovado na Câmara, tramita no Senado.
As lideranças governistas bloqueiam
a idéia do PT, a oposição obstrui o
projeto do governo. O resultado é que
as crianças continuam nas ruas, sem
escola, sem merenda, sem futuro.
Fernando Henrique Cardoso e
Eduardo Suplicy têm audiência no
Planalto, dia 9, mas pode-se apostar
desde já que não vai sair muita coisa
dali. FHC vai tentar convencer Suplicy; Suplicy vai tentar convencer
FHC. Nem as críticas do papa às desigualdades sociais brasileiras devem
mudar isso.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|