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CLÓVIS ROSSI
O mito do mito
SÃO PAULO - O sistema que permite a reeleição acaba representando um mandato de oito anos com
um referendo de confirmação (ou
não) do governante na sua exata
metade. Luiz Inácio Lula da Silva
perdeu o referendo com uma nitidez bastante grande.
De 125,9 milhões de eleitores,
apenas 46,6 milhões votaram em
Lula. Dá 37%.
Está longe, pois, de ser um mito
popular, ao contrário do que muitos
acadêmicos e jornalistas dizíamos
e/ou supúnhamos.
Por ironia, Fernando Henrique
Cardoso, com quem os petistas adoram fazer comparações, se saiu melhor que Lula quando lhe tocou participar do referendo reeleitoral em
1998: ganhou no primeiro turno,
com 53% dos votos válidos, contra
48,6% de Lula agora. No entanto,
nem FHC, vaidoso assumido, se
acha um herói popular.
Tem mais: Lula não conseguiu
vencer no primeiro turno mesmo
enfrentando um candidato virgem
em disputas nacionais e com assumido sabor de picolé de chuchu, ao
contrário de FHC, que derrotou o já
muito rodado e mais carismático
Luiz Inácio Lula da Silva.
É claro que Lula pode vencer no
segundo turno. Tem até mais chances aparentes que Geraldo Alckmin. Mas precisará emprestar votos daqueles que rejeitaram o seu
governo mas rejeitam mais ainda o
candidato adversário.
Será, de qualquer forma, uma vitória medíocre, bem de acordo, de
resto, com o governo que fez.
Alckmin também precisará, para
vencer, de votos emprestados dos
que não o quiseram no primeiro
turno. Conclusão inescapável: não
há quem encarne um projeto capaz
de formar uma maioria própria.
Menos ainda de formar uma maioria entusiasmada, do que deu prova
a frieza do domingo eleitoral.
Que, pelo menos, aquele que vier
a ser eleito entenda os números e
trate, a partir de janeiro, de reconstruir a crença na política.
crossi@uol.com.br
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