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ANTONIO DELFIM NETTO
Malthusianismo
UMA GRAVE ameaça pesa sobre a produção dos biocombustíveis. Movimentos sociais com objetivos ideológicos,
ambientalistas honestos, mas desinformados, analistas bem-informados, mas com viés malthusiano,
chefes de governo prisioneiros de
sua situação e até a ONU insistem
na falsa idéia de que eles vão reduzir a oferta de alimentos. No caso
brasileiro, a ameaça é claramente
falsa. A área total do Brasil é de 851
milhões de hectares, dos quais 463
milhões (54%) são ocupados por
áreas preservadas (inclusive a floresta amazônica); 220 milhões
(26%) são ocupados por pastagens;
72 milhões (9%) são áreas cultivadas (6 milhões de hectares pela cana) e 96 milhões (11%) são potencialmente cultiváveis.
É preciso enxergar um fato importante: a agricultura é o único setor da economia onde milhões de
produtores, individualistas e desorganizados, enfrentam uma estrutura oligopolista de compra, o
que significa que transferem potencialmente para os consumidores todos os seus ganhos de produtividade.
Isso explica a secular redução dos preços agrícolas com relação aos preços industriais. Apenas potencialmente porque, por
outro lado, a estrutura oligopolista
enfrenta milhões de consumidores, o que lhe dá um enorme poder
na formação dos preços.
Os ganhos de produtividade do
setor agrícola são o resultado do
desenvolvimento da seleção genética, dos transgênicos, das técnicas
de cultivo e da eficiência dos fertilizantes, e não há menor sinal de que
tais avanços vão arrefecer. Pelo
contrário, em alguns setores, como
o do etanol e do biodiesel, os avanços genéticos que aumentam a produtividade por área e os avanços
dos processos químicos e biológicos para o aproveitamento de toda
a biomassa na extração de combustível estão à vista.
É claro que o aparecimento de
um novo "produto" tende a alterar
todos os preços relativos. Isso
aconteceu, por exemplo, quando o
ex-presidente do Banco do Brasil
Nestor Jost, em 1968, convenceu o
governo de que o feijão-soja tinha
futuro. É ridículo imaginar que,
num mercado livre, a alteração dos
preços relativos possa ser a causa
da inflação (que exige preços crescendo).
Os ganhos de produtividade por
área na agricultura e na pecuária
vão liberar terra sobre a qual avançarão as novas culturas. Concretamente: o Brasil usa hoje 1/3 da terra que usava há 30 anos para produzir a mesma quantidade de álcool. Daqui a 30 anos, usará, provavelmente, menos de 1/9...
O único risco real que corre o
projeto de Lula é a ameaça do seu
próprio governo, se não se entender que há um claro conflito de interesse entre a Petrobras e os biocombustíveis.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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