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RUY CASTRO
De cabeça para baixo
RIO DE JANEIRO - A obrigação
de quem está sob prisão preventiva
ou domiciliar é fugir; lugar de tarado é na rua; e colar em exame é legal. Tudo isso com o beneplácito da
autoridade. Eis aí três histórias recentes do Brasil que, se forem contadas como piada em Portugal, provocarão boas risadas.
O suíço naturalizado Mike Niggli,
por exemplo, autor de golpes no valor de US$ 80 milhões, beneficiou-se da liberalidade do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que o
transferiu de uma cela da Polinter
no subúrbio de Campo Grande para
um apartamento de frente para o
oceano Atlântico, no Leblon. Pois,
não contente com a vista que tinha
das janelas, Niggli escafedeu-se em
agosto último, nem a Interpol sabe
para onde.
Em 2000, o ministro já mandara
soltar o ex-banqueiro Salvatore
Cacciola, autor de um rombo de
US$ 1,5 bilhão nos cofres públicos,
por considerar que sua culpa não
estava formada. Ao se ver na rua, o
ingrato Cacciola fugiu para a Itália.
Mas o ministro é magnânimo: acha
que, enquanto puder recorrer de
uma condenação, nenhum acusado
pode ser preso. Ao contrário, tem o
"direito natural de fugir".
Ademir Oliveira do Rosário, suspeito de ter matado e violentado
dois garotos na Cantareira, outro
dia, em São Paulo, tinha autorização médica para sair de sua internação no hospital psiquiátrico, em
Franco da Rocha, e visitar a família.
Nas dez vezes em que gozou dessa
liberdade, dedicou-se a atacar meninos -já se sabe de 21 vítimas.
E um defensor público e professor de um cursinho preparatório
para exames na Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio, está sendo
acusado de orientar seus alunos
-futuros advogados- a colar nas
provas da Ordem.
Quando Tom Jobim dizia que somos um país de cabeça para baixo,
não estava brincando.
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