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ELIANE CANTANHÊDE
Militar ou civil?
BRASÍLIA - O acidente com o
Boeing da Gol, matando 154 pessoas, não foi apenas o maior da história da aviação civil brasileira. Foi
também o detonador de um movimento de insatisfação dos controladores de vôo e de uma discussão
que vem desde a década de 1970: o
sistema de controle de tráfego aéreo deve ou não ser militar?
Na década de 1970, era militar.
Na de 1980, passou a ser misto, sob
comando militar, e logo houve
ameaças de greve. Na de 1990, já no
governo FHC, começou-se a desmilitarização lentamente, a partir da
criação do Ministério da Defesa e
do projeto da Anac (a agência da
aviação civil).
E chegamos a 2006 com uma típica operação-padrão -que, pela lei,
é um direito restrito a civis. Os militares são proibidos de fazer greve,
de se associar a sindicatos e associações e até de fazer "reivindicações".
Para eles, só é permitido ter "anseios" ou "aspirações".
O que complica os limites entre
civis e militares, depois do acidente
e no meio do caos em aeroportos, é
que o PT está no poder e tem forte
base sindical. Eis que, além de militares se comportarem como sindicalistas, eles passam a ter apoio em
setores poderosos do governo, para
o bem e para o mal.
O ministro da Defesa, Waldir Pires, assumiu o papel de porta-voz
do governo na crise e se reuniu com
representantes dos controladores
sem chamar ninguém da Aeronáutica, apesar de só um quarto dos
controladores ser civil. E o ministro
do Trabalho, sindicalista Luiz Marinho, se meteu na história. É uma
fagulha política que, junto com o
caos em aeroportos, atrapalha a festa da reeleição de Lula.
O acidente do Boeing foi uma tragédia histórica no Brasil e está produzindo uma reação em cadeia,
com desdobramentos ainda imprevisíveis. Um curto-circuito entre civis e militares não convém a ninguém.
elianec@uol.com.br
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