São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Saudável competição


Governadores e ministra cotados para Presidência tentam preservar obras na crise; mais previdentes serão premiados

OS INVESTIMENTOS têm sido os itens da despesa pública mais suscetíveis a cortes em situações de aperto fiscal. Quando cai a arrecadação, ou quando despesas extraordinárias emergem das crises, a primeira atitude dos governantes é paralisar ou adiar seus programas de obras.
O que parece natural -pois empresas e famílias também pisam no freio das despesas de capital nesses momentos- revela na verdade uma distorção. O papel de um governo diligente é poupar quando o setor privado gasta, a fim de que tenha condições de sustentar os dispêndios públicos na inversão do ciclo. Ao atuar dessa forma, o Estado ameniza os riscos quer do aquecimento excessivo da economia na euforia, quer da desaceleração exagerada na fase pessimista.
O setor público brasileiro está diante de mais um desafio que vai pôr à prova sua capacidade de preservar investimentos em infra-estrutura numa situação hostil. Circunstâncias político-eleitorais favorecem que haja, desta feita, mais resistência à diminuição do ritmo de obras.
Os três principais nomes cotados para disputar a Presidência em 2010 estão no Poder Executivo e têm interesse direto na manutenção de seus programas de investimento. Se o PAC não decolar como prometido, ficará ainda mais difícil realizar a façanha que seria a ministra Dilma Rousseff deixar o anonimato para suceder ao presidente Lula.
Por seu turno, os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, também precisam de um conjunto marcante de realizações. Será um ativo valioso seja para a disputa dentro do PSDB, seja para a difícil tarefa de enfrentar, em arena nacional, o candidato apoiado por Lula, que deve encerrar o mandato ostentando bons índices de popularidade -embora, devido aos efeitos prováveis da crise, não excepcionais como os de hoje.
As dotações para investimentos dos governos paulista e mineiro em 2009, somadas, chegam a R$ 30 bilhões. O Orçamento federal reserva R$ 39 bilhões para essa destinação. Sutilezas na formulação das previsões não permitem uma comparação direta das cifras, algo de resto inútil: o que interessa saber é qual a capacidade de cada um dos três governos de defender seus programas de obras num ambiente de deterioração econômica. Apenas ao final do processo vai-se descobrir a resposta.
Voluntarismos, evidentemente, terão peso apenas relativo na disputa. Sairão premiados os gestores-candidatos que, no período da bonança, abriram mão de aplausos imediatos, resistiram a pressões por aumentos de gastos permanentes na manutenção da máquina pública e prestigiaram o fortalecimento fiscal. Estes abriram margem duradoura para despesas em infra-estrutura e colherão, agora, os frutos da previdência.
A despeito das especulações sobre quem sairá vencedor, o mais importante é notar que a disputa para assegurar investimentos e obras públicas é um tipo de competição política saudável, que produz benefícios para toda a sociedade.


Próximo Texto: Editoriais: Partida a frio

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.