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Gasto com qualidade
Fim do desvio de verba dá mais R$ 9 bi anuais para educação que deveriam fluir para programas de atestada eficácia
A REVINCULAÇÃO completa de verbas federais para o ensino,
aprovada no Senado,
tem a aparência de boa notícia. A
emenda constitucional votada
acaba de forma paulatina com a
DRU (desvinculação de receitas
da União), que permitia ao governo gastar em outros setores
20% das receitas carimbadas para a educação. A parcela cai para
12,5% neste exercício, chega a
5% em 2010 e acaba em 2011.
No final do processo, o MEC
contará com R$ 9 bilhões adicionais por ano num orçamento
que, hoje, movimenta cerca de
R$ 40 bilhões. O dinheiro surge
como reforço genérico para as
políticas bem orientadas que o
ministro Fernando Haddad vem
implantando, enfeixadas no Plano de Desenvolvimento da Educação. Mas seria melhor se viesse
precedido por programas concretos e de eficácia comprovada
para aplicar as verbas devolvidas.
Tradicionalmente se gasta mal
no Brasil, e a área de educação
não foge a essa regra. O dispêndio público com ensino se aproxima de 5% do PIB, patamar semelhante ao de países desenvolvidos como EUA (5,3%), Reino
Unido (5,5%) e França (5,7%). O
Japão gasta 3,5%.
Temos, por certo, uma base
mais larga de jovens em idade escolar. Isso resulta num gasto
proporcionalmente mais baixo
por aluno, mas não o bastante
para explicar a diferença abissal
de qualidade, como atestam os
maus resultados de estudantes
brasileiros em testes internacionais padronizados.
Mesmo ponderando o dispêndio por estudante como fração
da renda per capita do país, o resultado é decepcionante. A nota
de alunos brasileiros do ensino
fundamental na prova de matemática do exame internacional
Pisa ficou pouco acima de 350
pontos em 2006. Considerado o
nível de renda do Brasil, porém,
nossos alunos deveriam alcançar
algo entre 450 e 500 pontos, de
acordo com os cálculos do economista Fernando Veloso, do
IBMEC-RJ, num cotejo entre os
países participantes do Pisa.
Diante desse quadro, mais dinheiro pode redundar só em
mais desperdício, ou em ganhos
irrisórios para a qualidade do ensino. Correto seria identificar
primeiro programas prioritários
para melhorar as aulas, partindo
de experiências bem sucedidas
em outros países, depois orçá-los
e só então incluir o valor necessário no orçamento.
A emenda constitucional aprovada também ampliou a faixa
etária de escolarização obrigatória. Até o presente, todos os que
tinham de 6 a 14 anos deveriam
estar matriculados; agora o Estado fica obrigado a prover vagas
para aqueles entre 4 e 17 anos
que as buscarem.
A medida, em si mesma meritória, corre o risco de seguir a
mesma lógica do aumento indiscriminado de recursos. Ninguém
pode ser contra dar pré-escola e
ensino médio para todos. No caso da pré-escola, contudo, não
faltam estudos mostrando que
ela só faz diferença no desempenho de futuros estudantes se
contar com professores treinados para lidar com essa faixa etária, turmas reduzidas e visitas regulares às famílias.
Isso tem preço, mas a verba pode escoar antes que ele seja corretamente fixado.
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