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ELIANE CANTANHÊDE
Quem não chora não mama
BRASÍLIA - O que Minas tem que São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e
os demais não têm?
São Paulo é até maior do que Minas, Rio é igualmente cheio de problemas, Bahia também reivindica
ressarcimento pela recuperação de
estradas federais, Rio Grande do Sul
e Mato Grosso do Sul estão com problemas parecidos para pagar o 13º.
Mas... só Minas esperneia, só Minas
exige ressarcimentos urgentes, só Minas quer condições especiais e só Minas reage com notas malcriadas a decisões pré-governo do virtual ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
Pior: só Minas faz Lula recuar, praticamente desautorizando Palocci e
pedindo um estudo particular e camarada para o Estado.
Tem alguma coisa esquisita aí, e
um paulista, um carioca, um baiano,
um gaúcho ou um mato-grossense
pode especular que a esquisitice nasceu na Bahia e atende pelo nome de
Itamar Franco. Essa é a diferença.
A sós, Lula e o governador eleito de
Minas, Aécio Neves, provavelmente
elogiam muito as qualidades de Itamar como futuro embaixador brasileiro em Roma. Uma cidade lindíssima, certamente concordam. E bem
longe do Brasil e de Minas, onde Itamar é visto como um "problemão"
em potencial. Como, aliás, se viu pela
sua nota de sexta-feira, danado da
vida com Palocci -leia-se: com Lula.
A questão é que, esquisito ou não,
chato ou não, Itamar parece estar
conseguindo o que quer: driblar a falta de disposição do governo petista
para quebrar o galho dos Estados e,
assim, fechar as contas do governo
que entrega a Aécio.
Ou seja: a esquisitice e a chatice às
vezes funcionam. Se Lula e Palocci
cederem, estarão automaticamente
dizendo a São Paulo, Rio, Bahia, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e
a todo o resto o seguinte: "Vá lá, turma, que pressão resolve!".
A regra básica é: se atender um, terá de atender todo o resto. Itamar está no seu papel de pressionar, mas o
risco do governo Lula é começar como uma ilha cercada de "Itamares"
por todos os lados.
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