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CLÓVIS ROSSI
De ilusões, armadas e perdidas
SÃO PAULO - Ao voltar de viagem, há uma semana exata, encontrei sobre a mesa os dois primeiros volumes
de "As Ilusões Armadas", a série de
cinco livros de Elio Gaspari sobre o ciclo militar.
Brinquei com o autor ao encontrá-lo no dia seguinte: "Não li e gostei".
Sabia que iria gostar, porque Elio
Gaspari escreve diabolicamente bem
e conta fatos como ninguém.
Bom, agora, ao concluir a leitura
do primeiro volume ("A Ditadura
Envergonhada"), dá para gostar não
só pelo valor jornalístico, historiográfico e literário do livro (o que já foi
cantado em prosa e verso por muitos)
mas também pela satisfação de verificar que os acontecimentos nele descritos parecem fazer parte não da história do século passado, mas da pré-história do Brasil.
Ou, posto de outra forma: os métodos de fazer política, incluída a violência como arma de terrorismo político, no período estudado estão absolutamente ultrapassados. O Brasil é
outro institucionalmente, infinitamente melhor.
Sou capaz de apostar em que não
haja chance de volta atrás na evolução institucional do país, embora
companheiros da Folha vejam com
ceticismo esse meu otimismo.
O Brasil é outro até no caudal de
pessoas que passou a fazer parte dos
registros eleitorais. Elio lembra, a certa altura, que Jânio Quadros elegeu-se presidente (em 1961) com 5,6 milhões de votos -colhidos, como é óbvio, em todo o país. Em 2002, essa votação seria medíocre (significaria
apenas a metade dos votos que Aloizio Mercadante capturou em um
único Estado, o de São Paulo, para
eleger-se senador).
Não ocorreu apenas a natural evolução demográfica, mas uma real
massificação da democracia.
Falta agora o passo seguinte: a democracia de massas dar prova de que
é capaz, sim, de resolver o abismo social que só fez ficar maior entre os
eventos registrados em "As Ilusões
Armadas" e o período de ilusões perdidas que foi interrompido, talvez só
momentaneamente, pela vitória de
Luiz Inácio Lula da Silva.
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