São Paulo, quarta-feira, 03 de dezembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os novos jatos para a FAB
OZIRES SILVA
A nossa indústria aeroespacial tem sido capaz de desenvolver e produzir aviões comerciais e militares, helicópteros, planadores, foguetes de sondagem e de lançamento de satélites, equipamentos e sistemas de defesa, mísseis, radares, sistemas de controle de tráfego aéreo e proteção ao vôo, sistemas de solo para satélites, equipamentos eletrônicos, além de fazer reparos e manutenção em aviões e motores aeronáuticos. Sua estrutura produtiva teve origem e cresceu a partir da criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, há 50 anos, e nas últimas três décadas montou uma capacidade tecnológica composta de um expressivo complexo industrial, competente para trabalhar em programas internacionais, o qual registra sucessos consagrados e reconhecidos em todo o mundo. Já é possível comemorar a criação de marcas próprias e de projetos indígenas reconhecidamente competitivos nos mais exigentes mercados. O Brasil é um novo expoente na exportação de produtos e tecnologia. Empresas brasileiras já licenciaram fabricantes no exterior e conquistaram respeito no moderno mercado globalizado de produtos de elevada base tecnológica e alto valor agregado. Para fazer parte da concorrência de fornecimento dos jatos supersônicos, as empresas brasileiras fizeram alianças com os consórcios internacionais concorrentes. Todos eles se comprometeram a fabricar os caças aqui no Brasil, além de assegurarem total transferência de tecnologia nas áreas sensíveis dos equipamentos instalados nos aviões. No entanto os especialistas insistem que, levando em conta a sofisticação dos produtos e o nível técnico dos equipamentos envolvidos, só empresas com competência comprovada poderiam ter a capacidade de diálogo essencial para tomar conhecimento dos complexos sistemas de vôo e de armas de tais aviões. Assim, nem todos os participantes podem oferecer a garantia de cumprimento dos compromissos explicitados. Por outro lado, os especialistas também asseguram que o número inicial de 12 unidades jamais garantiria, numa primeira etapa, o grau de integração industrial que está em discussão, sugerindo eles que as empresas brasileiras "parceiras" só poderiam ser aquelas que já contam com equipes treinadas em projeto e desenvolvimento de aeronaves e, muito importante, familiarizadas com os evoluídos processos de assistência técnica aos usuários ao longo do tempo. Portanto há um importante horizonte técnico a ser considerado. Essa aquisição deve ser encarada, de um lado, sob a ótica de atender as especificações e necessidades da nossa Força Aérea, mas, de outra, há um enorme campo de benefícios a ser assegurado, com o acesso a técnicas, métodos e processos avançados, capazes de operar como alavanca essencial para garantir um contínuo poder de competição das nossas vendas e exportações de aeronaves no futuro. Está em jogo um importante pilar do desenvolvimento econômico brasileiro. Os empregos proporcionados pelas exportações de aviões brasileiros já são vitais para expressivo segmento da mão-de-obra brasileira, treinada e competente, que hoje se equipara aos melhores especialistas mundiais. A competição crescentemente agressiva no mercado mundial não nos permite cruzar os braços na vã expectativa de que os sucessos conseguidos até agora serão perenes. O processo de aperfeiçoamento da inteligência produtiva é contínuo e não pode ser interrompido; o Brasil precisa explorar todas as possibilidades. Essa é a razão por que a FAB, real criadora e propulsora das fabricantes brasileiras de aviões, entre elas a Embraer e a Avibrás, deveria, no processo licitatório, enfatizar esses argumentos, oferecendo campo para que o sucesso futuro da manufatura aerospacial nacional seja perenemente garantido. Com certeza, na hipótese de uma simples importação sem os cuidados indicados, mesmo sob as condições de compensações comerciais ou técnicas amplamente decantadas pelos concorrentes, resultariam pobres balanços finais, embora custando bastante ao Tesouro Nacional e ao nosso frágil balanço de comércio exterior. Ozires Silva, 72, engenheiro aeronáutico e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, é presidente da Pele Nova Biotecnologia S.A. Foi ministro da Infra-Estrutura (governo Collor) e presidente da Petrobras e da Varig S.A. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Luiz Carlos Costa: A responsabilidade dos vereadores Índice |
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