|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALBA ZALUAR
Questão
social
É ÓBVIO para os estudiosos da
criminalidade neste planeta
que nem tudo é questão de
polícia. Mas há uma maré obscurantista e antiintelectual no Brasil.
Está na hora de relembrar algumas
premissas da prevenção.
Para além da prevenção feita pelo policiamento ostensivo, hoje baseado na proximidade e na cooperação com os vizinhos policiados, é
preciso pensar na criminalidade
contemporânea como uma epidemia de violência cujas práticas são
contagiosas. Idéias e atitudes são
aprendidas, imitadas, emuladas.
Só que, ao contrário das epidemias provocadas por bactérias e vírus ou transmissores naturais,
quando se trata da violência entre
humanos, tem-se que pensar no
vetor, na vítima e no algoz simultaneamente. Todos são humanos.
Quem produz, transporta, negocia
e entrega as armas nas mãos de jovens ainda em formação são seres
humanos. Como são as vítimas e os
algozes.
Os contextos social, cultural e
econômico têm efeitos na disposição para ato violento e no risco da
vitimização. O policiamento e o sistema de justiça têm efeito na dissuasão da ação criminosa e, portanto, no risco calculado sofrido
por cada setor da população. Mas
não na disposição adquirida.
São muitas as violências: a familiar, a ligada ao tráfico de drogas, a
do cotidiano das cidades, a entre
pessoas próximas ou desconhecidas, a institucional.
A violência irrompe em cadeia,
impulsionada não apenas pelo cálculo racional, mas pela emoção
descontrolada. Quando não limitada pela dissuasão e prevenção, cria
um circuito interminável de vinganças e prazeres destrutivos viciados. Fica estabelecida a imprevisibilidade e as pessoas se sentem
sem chão, sem proteção.
Não há formulas nem esquemas
para aplicação imediata na prevenção. Para cada tipo, para cada setor
da população, é preciso pensar como agir com a população atingida.
Portanto, é importante definir os
objetivos e metas a cada passo.
No caso dos homicídios cometidos com armas de fogo, o porte destas se explica pelo contexto social
dos pequenos grupos a que pertencem os jovens. O grupo de pares é o
maior preditivo de delinqüência
entre homens jovens.
Jovens passam a andar armados
para evitar serem vitimizados pelos seus pares armados, para impor
respeito e para gozar do prestígio
adquirido com a posse de armas.
Primeiro tem-se que restringir o
número de armas disponíveis para
os jovens moradores das áreas
mais violentas. E, simultaneamente, desconstruir as atitudes e idéias
que põem a crueldade e a insensibilidade ao sofrimento alheio nos corações e mentes desses jovens. Isso
se faz com educação.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Horror via iPod Próximo Texto: Frases
Índice
|