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RECUO NA ABERTURA
O governo federal anunciou, em
meio ao burburinho das festas de fim
de ano, uma das mais importantes
mudanças em sua política industrial
dos últimos tempos. Foi reduzida a
lista de máquinas e equipamentos
cujas importações eram beneficiadas
por tarifas mais baixas -conhecida
como regime de "ex-tarifários".
Houve um longo período entre a
suspensão da lista antiga, anunciada
em julho de 97, e a divulgação da nova. A mudança pode ser tomada como exemplo dos exageros cometidos
a partir do princípio de que abrir a
economia é bom em qualquer circunstância. O regime anterior chegou a beneficiar 3.600 itens. Agora, a
lista vai amparar com impostos de
importação de 5% apenas 830 tipos
de máquinas e equipamentos.
Essas alterações podem ser consideradas também como sinal de que
questões tão importantes da política
econômica são tratadas de maneira
não muito segura, para não dizer
com certo descuido, pelo governo.
Afinal, desde 1996 discutiam-se o regime cambial brasileiro e temas como a dimensão mais recomendável
da abertura econômica do país.
Se menos de 25% da lista original
de produtos merece ser mantida num
regime especial, o que parece ter havido antes foi, de fato, uma liberalidade não muito conscienciosa, justificada sob o lema da modernização
fabril. Ou será razoável imaginar que
já está concluída a reestruturação da
economia brasileira, sendo portanto
dispensável facilitar a entrada de
equipamentos modernos? Ademais,
a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq) levanta a hipótese de que
houve fraude nas importações
-equipamentos teriam sido comprados no exterior com abatimento
indevido de impostos. Não é novidade a falta de consistência e de transparência no que se convencionou
chamar de política industrial brasileira. Pode-se também imaginar que
a revisão dos extremos da abertura
leve tempo e que os técnicos do governo queiram ser agora mais criteriosos. Mas a denúncia de irregularidades no sistema, feita pela Abimaq,
precisa ser apurada.
A redução da lista é notável. Ou se
trata de um retrocesso na abertura,
capaz de comprometer investimentos (conforme alegam setores afetados, como os de química e de celulose), ou havia irregularidades nas importações, fato igualmente grave que
não pode ficar sem esclarecimento.
Mas há uma terceira hipótese, que
não exclui as anteriores. Como quase
sempre ocorre no Brasil, alteram-se
as regras do jogo, em especial as que
se referem a decisões de longo prazo
(como é sem dúvida o caso das importações de máquinas e equipamentos), com os olhos postos no
curto prazo. Ou seja, mais uma vez,
em nome do compromisso com uma
política cambial que vem há tempos
sendo criticada, o governo federal estaria apelando para o casuísmo no
controle das importações.
Seja por irregularidades no sistema
anterior, seja por estar fazendo uma
nova opção protecionista ou, ainda,
por estar agindo em resposta às fragilidades do regime cambial, o governo federal continua devendo melhores explicações ao público.
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