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NELSON MOTTA
Uma chamada para trás
SALVADOR - Conheci uma senhora portuguesa em Nova York
que não conseguiu aprender inglês
e esqueceu o português. Quando
deixava recados, em vez de pedir
para retornar ou "call me back", dizia "chama-me para trás". O projeto
do deputado Aldo Rebelo que proíbe o uso de palavras estrangeiras
também soa como um chamado
para trás.
Sob pena de multa, mulheres nacionais não farão mais stripteases,
mas excitantes "tira-provoca". Os
restaurantes terão dificuldades de
explicar em seus cardápios que o
"soprado de queijo" é o velho e banido suflê e que o "marronzinho" é o
ex-brownie. A Aids terá de ser chamada de Sida sob pena de o doente
não receber os remédios. E os lobistas, coitados, como se chamarão?
Ninguém falará mais laptop, que
deverá ser chamado de "ordenador
de colo", já que computador é americanismo e também está fora da lei,
só poderemos falar ordenador
-macaqueando os franceses e os
espanhóis. Falar em PC só se for o
do B: os ordenadores pessoais serão
os populares OPs, os programas rodarão no sistema "Janelas". Já os
CDs terão que ser chamados de
DCs, "discos-compactos".
As lanchonetes terão que mudar
de nome. Como se chamarão os
sundaes? O milk-shake será "leite-chacoalhado"? O afrancesado croquete é fácil, vira "cocréte". Assim
como as balas Hall's são chamadas
de "Rális" na Bahia.
Estou preocupadíssimo com os
publicitários, que terão que fazer
muitos seminários para se adaptar
a uma nova e estranha língua. Mas
eles são criativos, encontrarão boas
expressões nacionais para layout,
release, top de linha. Pior para os
surfistas, que já não tem um vocabulário muito amplo e ainda serão
privados do pouco que têm.
Livre da nefasta influência estrangeira, a nossa língua será pura.
Nem nós a entenderemos.
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