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CLÓVIS ROSSI
Duas hipóteses sobre o Hamas
PARIS - Claudia Antunes, a competentíssima editora de Mundo,
matou a charada da atual crise em
Israel/Palestina em artigo no primeiro dia dos ataques a Gaza, sob
título que diz tudo: "Falta um plano
para lidar com Hamas".
Qualquer plano teria que partir
de uma de duas hipóteses. Hipótese
1 - Tratar o Hamas como um grupo
terrorista com o apoio da maioria
dos palestinos (pelo menos os de
Gaza). Se é assim, o plano seria aniquilar o grupo, transformando Gaza no maior cemitério do mundo.
Hipótese 2 - Tratar o Hamas como um movimento político, religioso e assistencialista que tem,
sim, um grupo armado -e terrorista. A pergunta seguinte é: dá para
amputar o braço podre sem matar o
resto do corpo? Tudo indica que
não.
Aliás, o Ocidente já foi submetido
a uma prova parecida, na Argélia de
1992. A FIS (Frente Islâmica de
Salvação, grupo com algum parentesco com o Hamas) ganhou o primeiro turno da eleição. A reação foi
um golpe militar, com apoio/estímulo ocidental, que deu origem a
uma guerra civil cruenta, dezenas
de milhares de mortos e uma paz
apenas relativa, vira e mexe interrompida por atentados.
Se se aceitar a hipótese 2, o lógico
seria negociar com o Hamas.
É horrível negociar com um grupo que abriga terroristas? Também
acho. Mas não é igualmente horrível ter parte da população de Israel
sob ameaça permanente de que um
foguete caia dos céus na cabeça dela? Não é igualmente horrível promover um banho de sangue de civis
inocentes, inclusive crianças, e de
suspeitos de terrorismo, condenados à morte sem o direito ao devido
processo legal, o que contraria a essência do judaísmo?
Há até antecedente: a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) também era dada como
terrorista, mas Israel acabou por
negociar com ela.
PS - Dou ao leitor 15 dias de folga.
Não acostume, por favor.
crossi@uol.com.br
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