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ELIANE CANTANHÊDE
O Maranhão é o Brasil
BRASÍLIA - Nada poderia espelhar melhor a desigualdade brasileira do que o Maranhão que emergiu de três páginas diferentes da
Folha na última sexta-feira.
Na pág. A2, no texto "A crise na
janela", delicioso como sempre, José Sarney não fica a ver navios e sim
"um solitário barco envolto na bruma de sal". É a crise a olho nu, mas
Sarney trata de enaltecer São Luís
como o segundo porto do Brasil, exportando 110 milhões de toneladas
de minério de ferro e alumínio,
além de soja, milho, babaçu.
O Maranhão também tem "a
maior fábrica de alumínio do mundo, da Alcoa" e a "melhor infraestrutura do Nordeste", com estradas
de ferro e "comboios imensos, milhares de operários, lavra, energia e
estradas". Fantástico.
Mas esse é um Maranhão. Há outros. Você vira a página e, na A4, as
notas "Fichados 1" e "Fichados 2",
do Painel, informam que o Estado
contribui para a nova "lista suja" de
trabalho escravo com um juiz, Marcelo Baldochi, e o ex-prefeito de
Santa Luzia Antonio Braide, pai de
um ex-assessor do ministro maranhense Edison Lobão.
Virando mais uma página, chegamos à A6 e à reportagem sobre maranhenses que, no primeiro dia do
ano, incendiaram a prefeitura, o fórum e o cartório da mesma Santa
Luzia, a 300 km de São Luís e do segundo porto brasileiro. Motivo:
quem ganhou a eleição para prefeito não levou. A Justiça não deixou.
Na véspera, com os salários atrasados e sem Natal, prestadores de
serviço tinham invadido a casa do
prefeito Zilmar Melo e a empresa
de informática da família, em Tutoia (457 km da capital e do porto
maravilhoso). Quebraram até os
carros. O que restou, levaram.
E o Maranhão de um ex-presidente recente (1985-1990) e "da
maior fábrica de alumínio do mundo" não é só lembrado por trabalho
escravo e pela fúria de cidadãos,
mas pelos piores desempenhos em
português e em matemática. E no
IDH, claro.
O Maranhão é o Brasil. Ou melhor, o Brasil é o Maranhão.
elianec@uol.com.br
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