São Paulo, terça-feira, 04 de janeiro de 2011

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Menos estrépito

O discurso de posse do novo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, revela mais concordância que dissonância com os rumos da gestão do antecessor e mentor, Celso Amorim.
Como corretamente afirmou o chanceler, o novo peso do Brasil no cenário internacional dá ao país uma "autoridade natural para nos engajarmos em todos os grandes debates e processos decisórios da agenda internacional".
Resta saber se esse recém-adquirido relevo será utilizado de maneira menos estrepitosa que nos últimos oito anos.
De todas as áreas de governo, aquela em que a presidente Dilma Rousseff manifestou mais prontamente sua ressalva com os rumos ditados por seu padrinho político foi a da política externa.
Em sua primeira entrevista no Brasil depois de eleita, condenou a pena "bárbara" de apedrejamento imposta à iraniana Sakineh Ashtiani. E ao falar para a imprensa norte-americana criticou a decisão do governo Lula, que se absteve de apoiar resolução da ONU contra violações de direitos humanos da teocracia de Ahmadinejad.
Da comparação dos violentos protestos contra a eleição fraudulenta no Irã em 2009 com "uma coisa entre flamenguistas e vascaínos" à lamentável declaração de que "foi gostoso terminar o mandato vendo os Estados Unidos em crise", as posições da dupla Lula-Amorim foram permeadas por um exibicionismo recalcado que em nada contribuiu para a agenda internacional do Brasil.
Parte da estridência possivelmente deveu-se ao interesse de contemplar setores mais à esquerda do petismo, talvez frustrados com outras políticas do governo.
Essas pressões permanecerão, mas a presidente já deu sinais de que arroubos como os anteriores devem diminuir. Resta saber que papel desempenhará Marco Aurélio Garcia -voz mais alinhada à parcela anti-imperialista do petismo-, que manteve o cargo dentro do Palácio do Planalto.
Não estão no horizonte gestos mais ríspidos na direção da autocracia chavista ou o rompimento de outras alianças problemáticas que vicejaram nos últimos tempos, mas um realinhamento suave seria salutar. O distanciamento do Irã, prenunciado por Dilma, e uma relação mais pragmática com os EUA, onde Patriota foi embaixador, podem ser indicativos de uma auspiciosa correção de rumos.


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