São Paulo, terça-feira, 04 de janeiro de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Mudanças e desafios para o governo Dilma LUIZ GUILHERME PIVA
Não é só o crescimento. Mudanças modernizadoras estão em curso na economia e na sociedade brasileira. A política, como mosaico de atores, ideias e interesses, também. Mas não como representação partidária. Nessa dimensão, há certa estagnação -que, no ambiente em movimento, vira anacronismo. Na economia, o dinamismo da produção e das finanças dá papel ativo ao setor público. Põe o investimento no centro da ação privada. Força o mercado de capitais a criar mecanismos. Fundos de pensão e de investimento também ampliam sua participação. Redesenhos societários, amplitude na apropriação de resultados, profissionalização, qualificação, aprimoramento de bens e serviços -enfim, muito distante do país que terminou o século 20. Na estrutura social há a incorporação de milhões de brasileiros aos mercados de renda, consumo, educação e informação e a melhora dessas condições para um número ainda maior de brasileiros. Eles estão nos shoppings, cinemas, praias, escolas, fábricas, redes sociais, audiências da TV, no comércio popular e na economia informal e formam entre os empreendedores. Criam, nessa maré montante, um caleidoscópio de relações de produção, identidades, valores e interesses que matiza muito o espectro que vai dos excluídos aos ricos. É a faixa em que antes se distinguiam o operariado, a pequena burguesia, os profissionais liberais e os intelectuais -a maioria da sociedade. São novos atores, ideias, interesses e formas de representação e de expressão. Com demandas, exigências, valores e cobranças sobre a economia, o governo, os empregadores, os produtores de cultura, os candidatos, as instituições, a imprensa e as organizações sociais. Um (muitos) novo(s) tecido(s) político(s). Mais rico(s). Mais moderno(s). Que, cedo ou tarde, porá suas diferenças e ambições na arena para maior controle das decisões. Não é isso a política? Como distribuir essa variedade nos escaninhos partidários existentes? Uma parte é possível, porque as camadas políticas mudam em ritmos diferentes e porque parte dos partidos consegue se atualizar em certas dimensões. Mas os atuais partidos, organizados em referências anteriores às mudanças aqui descritas, representam e absorvem essas novas configurações? Acho que, majoritariamente, não. Conseguem mais nos segmentos tradicionais de elite (econômica, cultural, social) e bem menos nos setores ascendentes e emergentes. É uma questão importante para os partidos e para o sistema eleitoral e representativo. Mas é importante também para o governo Dilma em termos de formação de equipe, políticas públicas, imagem, discurso, interlocução e legitimação nas circunstâncias que as mudanças acima apresentam. O presidente Lula decifrou o quadro e foi bem-sucedido. O que aumenta o desafio da presidente Dilma -desde agora, nas suas escolhas iniciais. LUIZ GUILHERME PIVA, economista e doutor pela USP em ciência política, é diretor da LCA Consultores. Publicou "Ladrilhadores e Semeadores" (Editora 34) e "A miséria da economia e da política" (Manole). Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Milú Villela: A voz das ruas Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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