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ARMADILHA CAMBIAL
A escalada dos juros no Brasil
atrai investidores estrangeiros
e amplia a oferta de dólares no mercado de câmbio doméstico, já abastecido pelas divisas geradas pelas exportações. A conseqüência é a valorização do real. Esse movimento ocorre num contexto de pressões sobre a
moeda americana nos principais países do mundo. Os fundos de investimento estrangeiros tomam recursos
a 3% ao ano e os aplicam no Brasil,
beneficiando-se das maiores taxas de
juros reais do planeta.
Diante desse processo, o BC passou a intervir no mercado à vista e no
de derivativos de dólar. Estima-se
que o banco e o Tesouro já tenham
adquirido US$ 7 bilhões (R$ 18,2 bilhões). Na quarta, o BC ofertou 8.000
contratos no mercado futuro, mas a
demanda foi de 68 mil. O mercado
moveu-se todo para uma das pontas
dos contratos -a vendedora.
Por um lado, a valorização do real
auxilia no combate da inflação e permite ao BC elevar o nível das reservas
do país. Por outro, as compras de dólares expandem a oferta monetária
doméstica, obrigando o Tesouro a
ampliar a venda de títulos e, dessa
forma, aumentar a dívida pública.
Além disso, um dólar a R$ 2,60 parece demasiadamente arriscado para
um país cujo equilíbrio depende de
bons resultados nas contas externas.
O vai-e-vem das cotações ilustra a
complexidade da armadilha cambial, monetária e fiscal brasileira.
Num regime de livre fluxo de capitais, não se podem ignorar os riscos
de movimentos bruscos. No segundo semestre de 2002, a fuga de investidores desencadeou uma forte desvalorização do real. Agora, ocorre o
contrário. Essa volatilidade gera incertezas e pode desorganizar a economia. Uma vez que mecanismos
fiscais para conter fluxos de capitais
de curto prazo não estão no horizonte da política econômica, a maneira
mais sensata de evitar uma excessiva
desvalorização do dólar diante do
real é reduzir os juros. Sem um alinhamento razoável desses dois elementos -juros e câmbio-, o país
ficará exposto a sobressaltos, como a
experiência passada já demonstrou.
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