São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

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ARMADILHA CAMBIAL

A escalada dos juros no Brasil atrai investidores estrangeiros e amplia a oferta de dólares no mercado de câmbio doméstico, já abastecido pelas divisas geradas pelas exportações. A conseqüência é a valorização do real. Esse movimento ocorre num contexto de pressões sobre a moeda americana nos principais países do mundo. Os fundos de investimento estrangeiros tomam recursos a 3% ao ano e os aplicam no Brasil, beneficiando-se das maiores taxas de juros reais do planeta.
Diante desse processo, o BC passou a intervir no mercado à vista e no de derivativos de dólar. Estima-se que o banco e o Tesouro já tenham adquirido US$ 7 bilhões (R$ 18,2 bilhões). Na quarta, o BC ofertou 8.000 contratos no mercado futuro, mas a demanda foi de 68 mil. O mercado moveu-se todo para uma das pontas dos contratos -a vendedora.
Por um lado, a valorização do real auxilia no combate da inflação e permite ao BC elevar o nível das reservas do país. Por outro, as compras de dólares expandem a oferta monetária doméstica, obrigando o Tesouro a ampliar a venda de títulos e, dessa forma, aumentar a dívida pública. Além disso, um dólar a R$ 2,60 parece demasiadamente arriscado para um país cujo equilíbrio depende de bons resultados nas contas externas. O vai-e-vem das cotações ilustra a complexidade da armadilha cambial, monetária e fiscal brasileira.
Num regime de livre fluxo de capitais, não se podem ignorar os riscos de movimentos bruscos. No segundo semestre de 2002, a fuga de investidores desencadeou uma forte desvalorização do real. Agora, ocorre o contrário. Essa volatilidade gera incertezas e pode desorganizar a economia. Uma vez que mecanismos fiscais para conter fluxos de capitais de curto prazo não estão no horizonte da política econômica, a maneira mais sensata de evitar uma excessiva desvalorização do dólar diante do real é reduzir os juros. Sem um alinhamento razoável desses dois elementos -juros e câmbio-, o país ficará exposto a sobressaltos, como a experiência passada já demonstrou.


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