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A NOVA "GUERRA" DE BUSH
O papel preponderante dos Estados Unidos como única superpotência mundial demanda um
olhar atento para os seus rituais internos de democracia. Um dos mais
tradicionais é o discurso sobre o Estado da União, feito anualmente pelo
presidente, no qual são anunciadas
as prioridades para o ano seguinte.
No pronunciamento de quarta-feira, George W. Bush reiterou as suas
orientações de política externa e
comprometeu-se a aumentar a ajuda
à Autoridade Nacional Palestina para
fortalecer seu presidente, Mahmoud
Abbas, empenhado em retomar o
diálogo com Israel.
Foi, entretanto, com relação à política interna que o discurso gerou
mais controvérsias. Bush insistiu no
plano de privatizar a Previdência do
país, permitindo que no futuro as
pensões tenham como lastro contas
individuais que os cidadãos abasteceriam com contribuições durante a
vida ativa. É um sistema semelhante
ao preconizado, em anos passados,
pelo Banco Mundial para países
emergentes -que foi adotado, por
exemplo, no Chile. Privatizações parciais ou integrais da Previdência têm
sido debatidas e implementadas em
diversos países.
A proposta, absolutamente coerente com a linha privatista do Partido
Republicano e da administração
Bush, foi confrontada com estimativas de que o sistema de seguridade
social norte-americano esteja programado para pagar integralmente
as aposentadorias até meados do século. Segundo os opositores, mudá-lo agora não representaria apenas
um benefício para o mercado financeiro, que passaria a gerir vultosos
recursos. A transição para o novo
modelo implicaria também elevados
custos para o Estado. É algo que não
soa como uma boa notícia num país
cujo déficit fiscal, sob o governo
Bush, aumentou fortemente.
Ao voltar à proposta, já apresentada durante a campanha eleitoral, o
discurso inaugurou uma ampla polêmica, que deverá mobilizar intensamente a opinião pública norte-americana -até aqui, segundo pesquisas, majoritariamente contra as
mudanças. Desde já, pode-se prever
que o projeto, quando enviado ao
Congresso, provocará uma verdadeira guerra política. Bush, todavia, não
parece ser o tipo de presidente que teme confrontos dessa espécie.
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