São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

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A NOVA "GUERRA" DE BUSH

O papel preponderante dos Estados Unidos como única superpotência mundial demanda um olhar atento para os seus rituais internos de democracia. Um dos mais tradicionais é o discurso sobre o Estado da União, feito anualmente pelo presidente, no qual são anunciadas as prioridades para o ano seguinte.
No pronunciamento de quarta-feira, George W. Bush reiterou as suas orientações de política externa e comprometeu-se a aumentar a ajuda à Autoridade Nacional Palestina para fortalecer seu presidente, Mahmoud Abbas, empenhado em retomar o diálogo com Israel.
Foi, entretanto, com relação à política interna que o discurso gerou mais controvérsias. Bush insistiu no plano de privatizar a Previdência do país, permitindo que no futuro as pensões tenham como lastro contas individuais que os cidadãos abasteceriam com contribuições durante a vida ativa. É um sistema semelhante ao preconizado, em anos passados, pelo Banco Mundial para países emergentes -que foi adotado, por exemplo, no Chile. Privatizações parciais ou integrais da Previdência têm sido debatidas e implementadas em diversos países.
A proposta, absolutamente coerente com a linha privatista do Partido Republicano e da administração Bush, foi confrontada com estimativas de que o sistema de seguridade social norte-americano esteja programado para pagar integralmente as aposentadorias até meados do século. Segundo os opositores, mudá-lo agora não representaria apenas um benefício para o mercado financeiro, que passaria a gerir vultosos recursos. A transição para o novo modelo implicaria também elevados custos para o Estado. É algo que não soa como uma boa notícia num país cujo déficit fiscal, sob o governo Bush, aumentou fortemente.
Ao voltar à proposta, já apresentada durante a campanha eleitoral, o discurso inaugurou uma ampla polêmica, que deverá mobilizar intensamente a opinião pública norte-americana -até aqui, segundo pesquisas, majoritariamente contra as mudanças. Desde já, pode-se prever que o projeto, quando enviado ao Congresso, provocará uma verdadeira guerra política. Bush, todavia, não parece ser o tipo de presidente que teme confrontos dessa espécie.


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