São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2009

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Perto do apagão

Declínio acentuado da atividade econômica requer atos excepcionais a fim de evitar choque profundo no emprego

NUM LAPSO de 31 dias, a indústria brasileira recuou quase cinco anos. A freada na produção manufatureira foi tão violenta na passagem de novembro para dezembro que empurrou o volume de bens fabricados para um nível similar ao de março de 2004. Os dados divulgados ontem pelo IBGE surpreenderam até os mais pessimistas.
A produção industrial, que já havia recuado em outubro e novembro -sempre na comparação com o mês imediatamente anterior-, acentuou drasticamente o mergulho em dezembro. No último mês de 2008, as fábricas instaladas no país produziram um volume de mercadorias 12,4% menor que o verificado em novembro.
Não há registro de desempenho tão negativo na série do IBGE, que remonta a 1991. O resultado do quarto trimestre de 2008 foi ruim o suficiente para anular o crescimento industrial de todo o segundo semestre -até setembro, vale lembrar, o setor vinha crescendo em ritmo próximo de 7% ao ano.
A ducha de água gelada do final do ano também cortou à metade a taxa de incremento da produção fabril em 2008. Depois de ter registrado alta de 6% em 2007, o volume de bens fabricados fechou o ano passado com aumento de apenas 3,1%.
Se há algo próximo de um apagão industrial, o Brasil passou por essa experiência em dezembro -e as montadoras foram o segmento que a vivenciou com mais dramaticidade. Para cada 100 veículos produzidos em novembro, 60 foram fabricados no mês seguinte.
Não se espera que a produção industrial tenha permanecido tão fraca em janeiro nem, tampouco, que se mantenha nesse patamar ao longo deste ano -o que significaria um 2009 catastrófico para a atividade e o emprego. O próprio setor automobilístico já começa a reagir, e o consumo de energia elétrica voltou a crescer depois de ter registrado rara queda no final do ano.
A retomada, no entanto, ficará longe de devolver o vigor que a atividade demonstrava até setembro. Sem estímulos adicionais da política econômica, é muito provável que o desempenho do PIB em 2009 caia a menos da metade do ocorrido no ano passado.
Tamanha desaceleração, que já se reflete em redução acentuada de índices e expectativas de inflação, contrasta com juros básicos de 12,75% ao ano. O Banco Central começou a reduzir a Selic apenas no mês passado, apesar de ter retirado, de uma só vez, um ponto percentual da taxa.
A autoridade monetária ainda precisa traduzir em ações audaciosas e preventivas o diagnóstico de que esta é uma crise excepcional, que requer atitudes excepcionais também na definição da taxa de juros. Cortes mais substanciais, anunciados de modo extraordinário, teriam efeito importante sobre o ânimo de empresários, investidores e consumidores.
Deixar o tempo passar, neste contexto, é perder a chance de evitar um choque profundo -e desnecessário- na renda e no emprego dos brasileiros.


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