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Perto do apagão
Declínio acentuado da atividade econômica requer atos excepcionais a fim de evitar choque profundo no emprego
NUM LAPSO de 31 dias, a
indústria brasileira
recuou quase cinco
anos. A freada na produção manufatureira foi tão violenta na passagem de novembro
para dezembro que empurrou o
volume de bens fabricados para
um nível similar ao de março de
2004. Os dados divulgados ontem pelo IBGE surpreenderam
até os mais pessimistas.
A produção industrial, que já
havia recuado em outubro e novembro -sempre na comparação com o mês imediatamente
anterior-, acentuou drasticamente o mergulho em dezembro. No último mês de 2008, as
fábricas instaladas no país produziram um volume de mercadorias 12,4% menor que o verificado em novembro.
Não há registro de desempenho tão negativo na série do
IBGE, que remonta a 1991. O resultado do quarto trimestre de
2008 foi ruim o suficiente para
anular o crescimento industrial
de todo o segundo semestre -até
setembro, vale lembrar, o setor
vinha crescendo em ritmo próximo de 7% ao ano.
A ducha de água gelada do final
do ano também cortou à metade
a taxa de incremento da produção fabril em 2008. Depois de ter
registrado alta de 6% em 2007, o
volume de bens fabricados fechou o ano passado com aumento de apenas 3,1%.
Se há algo próximo de um apagão industrial, o Brasil passou
por essa experiência em dezembro -e as montadoras foram o
segmento que a vivenciou com
mais dramaticidade. Para cada
100 veículos produzidos em novembro, 60 foram fabricados no
mês seguinte.
Não se espera que a produção
industrial tenha permanecido
tão fraca em janeiro nem, tampouco, que se mantenha nesse
patamar ao longo deste ano -o
que significaria um 2009 catastrófico para a atividade e o emprego. O próprio setor automobilístico já começa a reagir, e o
consumo de energia elétrica voltou a crescer depois de ter registrado rara queda no final do ano.
A retomada, no entanto, ficará
longe de devolver o vigor que a
atividade demonstrava até setembro. Sem estímulos adicionais da política econômica, é
muito provável que o desempenho do PIB em 2009 caia a menos da metade do ocorrido no
ano passado.
Tamanha desaceleração, que já
se reflete em redução acentuada
de índices e expectativas de inflação, contrasta com juros básicos de 12,75% ao ano. O Banco
Central começou a reduzir a Selic apenas no mês passado, apesar de ter retirado, de uma só vez,
um ponto percentual da taxa.
A autoridade monetária ainda
precisa traduzir em ações audaciosas e preventivas o diagnóstico de que esta é uma crise excepcional, que requer atitudes excepcionais também na definição
da taxa de juros. Cortes mais
substanciais, anunciados de modo extraordinário, teriam efeito
importante sobre o ânimo de
empresários, investidores e consumidores.
Deixar o tempo passar, neste
contexto, é perder a chance de
evitar um choque profundo -e
desnecessário- na renda e no
emprego dos brasileiros.
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