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RICARDO MELO
Dormindo com o inimigo
SÃO PAULO - Para quem acompanha as manchetes, a notícia de que a
violência voltou a crescer em São
Paulo não foi exatamente um raio
em céu azul. Tudo indica que as medidas de combate à criminalidade
adotadas no Estado nos últimos
anos atingiram seu limite de eficácia. Sempre é fácil culpar a crise
econômica, como faz o governo
Serra. Difícil é convencer. Uma
olhada na série histórica mostra
que, mesmo com desemprego
maior, foi possível no passado exibir avanços no combate à violência.
As razões para a inversão na curva de homicídios e a disparada de
roubos e latrocínios parecem bem
mais domésticas. Uma pista: reportagem de André Caramante publicada no último dia 24 informou que
cerca de um quarto dos delegados
da polícia civil paulista é alvo de algum tipo de processo.
Trocando em miúdos, tem-se que
800 funcionários dos mais diferentes escalões de comando, teoricamente encarregados de zelar pelo
cumprimento da lei, enfrentam
problemas variados com a Corregedoria. A lista de acusações é ampla.
Vai de pequenos delitos a negócios
milionários com traficantes e a cúpula do banditismo.
Casos de corrupção policial certamente nunca foram exclusivos da
corporação paulista. O que impressiona é a espessura da sujeira.
Quando tantos chefes policiais integram o rol de cidadãos suspeitos,
chega a parecer um milagre que ao
longo dos anos precedentes a criminalidade tenha recuado. Seja como
for, mais cedo ou mais tarde o problema teria que aparecer nas estatísticas. Apareceu agora.
O atual secretário da Segurança
se diz comprometido a colocar o dedo na ferida. Trabalho nada pequeno, nem tanto pela quantidade.
Mais grave é que entre os 800 sob
suspeita estão vários cardeais da
corporação, gente que dificilmente
entrega o distintivo sem antes fazer
muito barulho. Mas, sem dúvida, o
azul ou vermelho das futuras estatísticas dependerá sobretudo do resultado desta queda de braço.
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