São Paulo, quarta, 4 de fevereiro de 1998

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É a política, estúpidos

CLÓVIS ROSSI
Davos - Consta que o principal conselho que os marketeiros deram a Bill Clinton em sua primeira campanha presidencial (92) foi curto e grosso:"É a economia, estúpido".
A economia norte-americana mal saía de uma recessão e, por isso, deveria ser o tema excludente da campanha, achavam. Deu certo.
Agora, é a hora de os marketeiros soprarem aos ouvidos dos governantes a mesma frase, com a troca de uma só palavra: "É a política, estúpidos".
Só uma ação política (com pê maiúsculo) decidida e corajosa será capaz de ao menos tentar pôr algo de ordem no grande cassino global.
Que me perdõem os fundamentalistas do mercado, como os chama George Soros, mas está na cara que o capital financeiro, deixado inteiramente livre, só faz uma coisa: maximizar o lucro, mesmo correndo risco máximo.
O que é natural: na hora H, governos e/ou instituições internacionais tratam de "pagar a fiança dos especuladores, à custa dos trabalhadores", como diz John Sweeney, o principal líder sindical norte-americano. Ou seja, os governos assumem as dívidas que o setor privado (o mercado) contraiu.
Os fundamentalistas do mercado (que, no Brasil, abundam) dizem que a culpa da crise é dos governos, do "capitalismo de compadrio" predominante na Ásia.
Ou é má-fé ou é desinformação. Leia-se, a propósito, o que escreve Joseph Stiglitz, que foi chefe da assessoria econômica de Clinton e hoje é vice-presidente e economista-chefe do Banco Mundial:
"Na sua ânsia por colocar a culpa exclusivamente nos governos da região, muitos críticos esquecem que cada empréstimo exige não apenas um tomador, mas também um emprestador, (...) muitos dos quais bancos comerciais internacionais".
Sugestões sobre como pôr ordem no cassino não faltam. Falta apenas firmeza política dos governantes, acovardados até a medula ante esse ente sem rosto chamado mercado.



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