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Conversa e fatos
ANTONIO DELFIM NETTO
A análise das consequências das flutuações das moedas asiáticas sobre o
fluxo do comércio internacional dos
países envolvidos é tarefa complicada.
É surpreendente, portanto, ouvirmos
de pessoas supostamente informadas
que vai acontecer isso ("o efeito será
mínimo") ou aquilo ("o efeito será
catastrófico"), sem que os fatores condicionantes das previsões sejam explicitados.
Um dos problemas é compreender
como funcionarão os exportadores e
importadores nas duas direções. Tomemos como exemplo os EUA e a Coréia. Há um ano a taxa de câmbio entre
eles era da ordem de 860 wons/dólar.
Hoje é da ordem de 1.700 wons/dólar.
Suponhamos que o valor adicionado
aos produtos exportados pela Coréia
seja da ordem de 60%, isto é, que 40%
dos componentes das exportações industriais sejam importados. Um produto coreano com o preço de 86.000
wons (US$ 100) teria 51.600 wons de
valor adicionado internamente
(mão-de-obra mais lucro) e 34.400
wons de componentes importados (40
dólares a 860 wons/dólar).
O que acontece quando o won passa
de 860 para 1.700 por dólar? O preço
do produto de exportação que era de
100 dólares (86.000 dividido por 860)
pode ser reduzido. Como se distribuirá
essa queda do preço em dólares? Obviamente, o componente importado
continua a valer 40 dólares (mas agora
isso representa 68.000 wons: 40 vezes
1.700). O valor adicionado interno será
ainda de 51.600 wons.
O valor adicionado em wons permanece o mesmo, no curto prazo, devido à
queda da atividade interna. O que estimula o aumento das exportações é a
dramática queda do 'valor adicionado
em dólares': de 60 para 30,4 dólares,
que possibilita uma baixa de preços em
dólares e um aumento das margens de
lucro, que estimula o investimento no
setor.
Em condições normais, os exportadores tentam conservar o seu "share"
com preços constantes, relativamente
aos seus concorrentes, nos mercados
compradores. Às vezes tentam ampliá-lo com vantagens não-preço: qualidade, taxas de juros, prazos de pagamento. Mas agora não se trata de condições normais. As empresas têm de
ampliar suas vendas para resolver seus
problemas de endividamento e o país
precisa aumentar suas exportações em
dólares. Elas vão tentar utilizar uma
parte da redução do custo em dólares
(de 100 para 70,4) para substituir os
competidores que não puderem acompanhá-las: elas nem vão manter o preço de 100 (que não teria efeito sobre as
exportações e até poderia reduzi-las)
nem reduzi-lo para 70,4, liquidando
quem não as acompanhou, pois não
têm capacidade instalada para substituí-las. Uma redução do preço em dólares de 15% (de 100 para 85), por
exemplo, só aumenta a receita em dólares se a quantidade exportada subir
mais de 18%. Isso só pode ocorrer se as
empresas ocuparem o espaço de competidores malsucedidos: aqueles aos
quais não foram dadas condições isonômicas de competição...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta
coluna.
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