São Paulo, quarta, 4 de fevereiro de 1998

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A velha cantilena do voto útil


Nada mais sem sentido do que a tese de que os partidos de esquerda devem apoiar Covas para derrotar Maluf
JOSÉ DIRCEU

Novamente se coloca, em São Paulo, a velha cantilena do voto útil e do apoio de PT, PSB ou PDT ao PSDB, que seria o partido antimalufista. Nada mais antiquado e mentiroso. PSDB e PPB, aliados em termos nacionais, fazem parte da bancada de sustentação do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Não há divergências entre o PPB -o malufismo, portanto- e o presidente FHC. Fernando Henrique não só ajuda o prefeito Celso Pitta como também montou um palanque para Maluf e outro para Covas em São Paulo.
Outro exemplo dessa "ajuda" é o fato de o governo federal, particularmente o Banco Central, ter sonegado ao senador petista Eduardo Suplicy informações que poderiam permitir que se desvendassem as falcatruas financeiras da dupla Maluf-Pitta.
Além disso, o presidente tem se utilizado de métodos que fazem inveja ao próprio malufismo -vide a compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição e os escândalos que o governo tem jogado para baixo do tapete.
Em 1996, o malufismo poderia ter sido derrotado em São Paulo. Para não falarmos no primeiro turno, Luiza Erundina era a candidata capaz de derrotar Pitta no segundo turno. Mas o PSDB adotou uma posição de neutralidade, de não-enfrentamento -e o Palácio do Planalto emitiu sinais evidentes de apoio ao malufismo.
Tudo isso após Mário Covas ter sido eleito governador, em segundo turno, somente porque teve o apoio do PT, o que mostra a fragilidade do PSDB no Estado de São Paulo.
Na gestão Erundina, o PSDB foi oposição, com exceção do caso da tentativa de impeachment da prefeita. Quando assumiu o governo de São Paulo, em 1995, Covas adotou uma política de aproximação e convivência absolutamente tranquilas com o malufismo. Na verdade, apenas quando o covismo sente sua cadeira ameaçada é que retoma o discurso antimalufista.
Por tudo isso, o PT não tem por que apoiar o PSDB e Mário Covas e não lançar uma candidatura própria. Se não fosse por todas as razões já explicitadas, seria porque o partido é oposição ao governo Covas e estamos em um sistema eleitoral de dois turnos.
Portanto, nada mais sem sentido do que a tese de que os partidos de esquerda devem apoiar Covas para derrotar o malufismo. Isso sem deixar de lado a questão de que, ao que tudo indica, o governador não é o melhor candidato para enfrentar o malufismo.
A oposição que o PT fez e faz a Mário Covas em São Paulo está fundamentada em divergências programáticas, pelo apoio e pela sustentação que o governador dá à política de Fernando Henrique Cardoso. É tão triste o comportamento de Covas que, apesar do Fundo de Estabilização Fiscal, da Lei Kandir e da compra de votos para a reeleição, ele só passou a divergir do governo FHC quando este acenou para dois palanques em São Paulo.
Nossa oposição ao covismo está fundamentada na concepção e nas propostas diferenciadas que temos para a educação no Estado; na visão que temos do papel do próprio Estado nas áreas energética e de infra-estrutura, do papel do Banespa, da saúde pública e da segurança em São Paulo. E, principalmente, na visão sobre o modo de governar.
Portanto, o PT vai ter candidatura própria em São Paulo, vai construir alianças no campo da esquerda e vai disputar o primeiro turno -para ir ao segundo e ser, como já foi em 1988, uma opção ao malufismo.
José Dirceu, 51, advogado, é presidente nacional do Partido dos Trabalhadores. Foi deputado federal pelo PT-SP (1990-94). E-mail: zedirceu@uol.com.br



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