São Paulo, terça, 4 de março de 1997.

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EMPREGO OU EMPREGUISMO

O combate ao empreguismo no setor público sempre mereceu destaque entre os argumentos em favor da desestatização. A constatação de que as empresas federais privatizadas a partir de 1991 fecharam 39.631 postos de trabalho, desde que passaram ao controle privado, confirma, na prática, a justeza desse argumento.
O anúncio de ``desemprego'', entretanto, parece ativar um alarme em muitas consciências. Afinal, como comemorar essas demissões sem assumir uma atitude ``anti-social''?
Para aceitar e principalmente compreender a legitimidade dessas demissões é preciso uma perspectiva mais ampla, que envolve duas dimensões não só econômicas, mas também políticas. Do ponto de vista econômico, o combate ao desemprego tem sucesso apenas quando se reduz a ineficiência do sistema econômico, aumentando a produtividade. Ora, é esse o objetivo mais prejudicado pelo empreguismo estatal.
Na prática, ocorre que esses empregos defendidos corporativamente no setor estatal impedem a redução dos gastos públicos. E o déficit público impede a redução das taxas de juros. O que, finalmente, dificulta a geração de empregos no setor privado.
Assim, o empreguismo público não é uma defesa do maior nível de emprego possível para toda a sociedade, mas apenas a manutenção de um privilégio à custa da mesma.
Em segundo lugar, a questão não se limita às estatais. Como revela a análise do deputado Roberto Campos na Folha de domingo passado, há no Brasil uma herança de apropriação do Estado por elites (magistrados, congressistas, militares, jornalistas, burocratas, estudantes em universidades públicas) que se apegam a benefícios desproporcionais às contribuições que fazem ao Estado.
Ou seja, o governo que parece protetor é no mais das vezes predador. Perdem os mais pobres que, sem representação política ou lobbies organizados, carregam nas costas uma elite disposta a tudo para gozar privilégios, estes sim, imorais.

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