São Paulo, terça, 4 de março de 1997.

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MUY AMIGOS

A segunda administração Bill Clinton trouxe para a América Latina expectativas de mudança no relacionamento, não apenas de maior atenção como de ampliação da agenda. O anúncio de visitas do presidente norte-americano à região é o maior indício dessa nova perspectiva.
Mas os fatos pesam mais que essas expectativas e se tornaram mais graves com o debate sobre a decisão do governo dos EUA quanto a reclassificar ou não o México como aliado na guerra ao narcotráfico. A decisão foi afinal por manter o status do país. Uma negativa abalaria as relações econômicas entre os dois países.
Em 1996, 400 toneladas de cocaína, 150 de anfetaminas e 15 de heroína foram ``exportadas'' do México para os EUA. Há sinais de ``corrupção endêmica'' no governo mexicano.
O episódio é revelador, entretanto, das dificuldades que a América Latina ainda enfrenta para superar o estigma do narcotráfico. Aliás, no mesmo dia em que os EUA confirmavam o México como parceiro, fugia das prisões mexicanas um importante chefe do cartel criminoso. O fato reforçou os protestos no Congresso norte-americano, onde ainda há quem defenda sanções mais duras.
A questão do narcotráfico, aliás, tem importantes implicações econômicas, pois a expansão dos acordos entre os EUA e outros países depende dos congressistas.
As evidências de que os problemas de criminalidade e imigração associados ao tráfico de drogas se agravam em nada contribuem para criar um horizonte favorável. A questão da lavagem de dinheiro do narcotráfico é igualmente perturbadora.
Afinal, logo depois da crise do México, os EUA injetaram bilhões de dólares para preservar o sistema financeiro mexicano. A iniciativa foi crucial, mas perde legitimidade diante de evidências de que esse mesmo sistema torna-se um centro para operações ilícitas.
Recuos na relação entre EUA e México são improváveis. Entretanto, a dimensão do narcotráfico ilustra bem como é difícil renovar a agenda latino-americana em Washington.

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