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CONTA DIFÍCIL
A resolução de um simples
problema matemático -uma
regra de três, por exemplo- constitui um grande problema para a
maioria da população brasileira. Segundo pesquisa nacional realizada
pelo Instituto Paulo Montenegro em
parceria com a ONG Ação Educativa,
51% dos entrevistados dizem ter alguma dificuldade para fazer contas.
Cerca de um terço da população entre 15 e 64 anos consegue no máximo
executar tarefas simples, como anotar um número de telefone ditado
por alguém, ver as horas no relógio
ou verificar uma data no calendário.
O levantamento apenas confirma o
que os exames vinham apontando de
forma recorrente: os estudantes não
possuem conhecimentos matemáticos fundamentais que supostamente
deveriam dominar. Pesquisa feita pela secretaria estadual da Educação
em 2001 revelou que ela é tida como a
disciplina mais difícil. No ano passado, os 130 mil candidatos que prestaram a primeira fase da Fuvest tiveram
média de acertos de apenas 20%.
Por que os alunos não aprenderam
matemática? O problema pode ser
do aluno. Uma parte dos adolescentes divide seu tempo entre o curso
noturno e algum tipo de trabalho
diário, seja gratuito (ajudando os
pais), seja mal remunerado. Outros
têm dificuldades na aquisição de material escolar ou são vítimas de deficiências nutricionais, que atrapalham a atenção e a concentração.
Mas a dificuldade também pode estar no professor. Como a carreira é
pouco valorizada, em contraste com
medicina ou engenharia, ela acaba
sendo a opção de alunos menos preparados, que apresentam menor
renda familiar e menor grau de instrução dos pais -como revela o perfil socioeconômico dos estudantes
que se submeteram ao Exame Nacional de Cursos, o provão. Em 2001, a
matemática era a disciplina com
maior déficit de professores efetivos
na rede estadual de São Paulo, de
quase 10 mil docentes, o que é um
sintoma do grau de precariedade do
ensino ministrado aos adolescentes.
Por fim, talvez a dificuldade maior
esteja na própria matemática. Além
das divergências entre os métodos
antigos e novos de ensinar a disciplina -basta lembrar a polêmica sobre
a "matemática moderna"-, há uma
exigência de abstração que perturba
o senso comum. Veja-se o conceito
de número, por exemplo. A maioria
das pessoas tende a considerar o algarismo como um sinal de uma coisa concreta (uma laranja, duas laranjas), em vez de considerá-lo como algo abstrato, de valor posicional. Ora,
se o conceito mais simples já é obscuro, o que dizer do resto?
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