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CLÓVIS ROSSI
Prefiro Frei Betto
SÃO PAULO -Só espero que a equipe
econômica, louca para governar "by
the book", não leve ao pé da letra a
pesquisa do Ipea sobre a relação desemprego/inflação.
Se levar, como mostrou texto sempre preciso de Marta Salomon na Folha de ontem, mais 832 mil pessoas
perderão o emprego para que o ímpeto inflacionário seja contido.
O trabalho do Ipea usa uma tal de
Nairu (acrônimo em inglês para taxa
de desemprego que não acelera a inflação). Faz até sentido: diz que,
quanto mais baixo for o desemprego,
maior o risco de aumento de preços,
porque os salários tendem a subir e,
com o aumento, sobem também os
custos das empresas e os preços, já que
há mais renda para comprar mais
coisas.
O diabo é tomar essa Nairu como
Bíblia. Há um caso muito recente que
desmoralizou a teoria. Nos EUA, a
Nairu seria de 5%. Abaixo desse patamar, o desemprego fatalmente levaria a aumento de preços.
Pois bem: no boom dos anos Clinton, o desemprego caiu primeiro para
4%, e não houve inflação. Depois,
baixou mais ainda, para 3% (sempre
com alguns quebrados). Nem sinal de
alta de preços.
Já que o novo PT se apaixonou perdidamente por Delfim Netto, poderia
ao menos aprender uma das lições
que ele frequentemente ensina: economia não é ciência exata.
Mas, atenção, Delfim também é
economista. Logo convém desconfiar
até dele próprio. Não custa lembrar
que o PT nasceu, no final dos 70, início dos 80, combatendo a política econômica da época, que era conduzida
por, sim, Delfim Netto.
É possível que o PT estivesse errado
então e certo agora. Mas, como economia não é ciência exata, talvez estivesse certo, e Delfim, errado, antes como agora (ao fornecer evidências
"científicas" de que o aumento dos juros funciona contra a inflação).
Se é para acreditar em verdades
eternas e definitivas, é melhor chamar Frei Betto para a Fazenda. De
Bíblia, é o que mais entende no PT.
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