São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2004

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SURTO GOVERNAMENTAL

Ao que parece, o Planalto passa por um surto de hiperatividade e imaginação na tentativa de se contrapor às más notícias acumuladas neste início de ano. A interrupção dos cortes nos juros, o caso Waldomiro Diniz e a constatação de que o PIB encolheu em 2003 deixaram o governo na defensiva, desagradaram aos mercados e precipitaram o lançamento da "agenda positiva".
É na área macroeconômica que as movimentações se mostram mais controversas. Até aqui arquivada, ganhou projeção a tentativa de convencer o FMI a rever os critérios de cálculo do superávit das contas públicas, com vistas a aumentar os investimentos em infra-estrutura. Até o presidente da República entrou no circuito, disparando ligações telefônicas para seus pares influentes, a começar por George W. Bush.
Simultaneamente, o ministro Palocci anunciou que pretende adotar novas regras para fixar as metas fiscais, condicionando-as ao crescimento econômico. Aparentemente, no entanto, não se cogita da redução da meta atual, de 4,25% do PIB -mas apenas de seu aumento, caso a economia venha a crescer.
Embora aumentar o investimento público seja algo desejável, é preciso recordar que o acordo com o FMI termina em setembro, sendo considerado oficialmente como "preventivo e transitório". Prevendo-se que a mudança no cálculo dos superávits demandará tempo, é de perguntar o motivo de tanto empenho. Além da hipótese de jogo de cena, estaria o governo julgando que precisará prorrogar o acordo? A suposição torna-se verossímil quando se sabe que subsiste a ameaça de novo abalo cambial, a se materializar no momento em que os EUA elevarem sua taxa juros, hoje em 1% ao ano. Essa decisão tenderá a reverter o fluxo de capitais para o Brasil -que tem ajudado a conter a cotação do dólar.
Certo, como esta Folha tem alertado, é que a política de juros para cumprir as atuais metas de inflação, aliada ao esforço fiscal, dificilmente produzirá crescimento. Dada a fraca base de 2003, deve-se obter alguma expansão, mas seus efeitos poderão ser mais estatísticos do que reais. É essa a preocupação que deveria estar no topo da agenda econômica.


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