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Hora da diplomacia
Governo da Colômbia errou ao violar soberania do Equador e precisa comprometer-se a
não repetir o abuso
A COLÔMBIA deve uma
explicação ao Equador
-e à comunidade internacional- por ter
violado o território equatoriano
numa operação militar que resultou na morte de um dirigente
das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc.
Ninguém contesta a Bogotá o
direito de perseguir membros
das Farc como terroristas. Já faz
tempo que essa organização,
nascida como uma guerrilha de
inspiração marxista, converteu-se numa súcia de bandoleiros
que se financia com o tráfico de
drogas e se dedica a seqüestrar
cidadãos colombianos e estrangeiros, submetendo-os às piores
provações durante anos.
O imperativo de enfrentar as
Farc, contudo, não confere à Colômbia o direito de invadir um
vizinho para capturar ou matar
guerrilheiros, mesmo que eles
montem os seus acampamentos
do outro lado da fronteira. O único procedimento aceitável nesses casos é comunicar as autoridades vizinhas da presença de foragidos e aguardar que elas ajam
ou autorizem a entrada das tropas colombianas.
Está correto o presidente
equatoriano, Rafael Correa, ao
exigir de seu colega Álvaro Uribe
o firme compromisso de que
operações como a do último sábado não se repetirão. Infelizmente, a Colômbia é reincidente
nessa matéria. Em janeiro de
2005, agentes de Bogotá se envolveram no seqüestro de um dirigente das Farc que então vivia
na Venezuela.
Propagado apenas depois da
violação de fronteira, o argumento do governo Uribe, de que
o Equador estaria dando refúgio
aos membros das Farc, faz parte
de uma manobra diversionista.
Não é segredo que os narcoguerrilheiros, cada vez mais isolados
na Colômbia, se aproximaram do
presidente venezuelano, Hugo
Chávez, e no mínimo buscavam
acolhida semelhante de Correa.
O que permanece incerto é se essa relação rendeu às Farc financiamento e/ou refúgio por parte
de Caracas e Quito.
Nas relações internacionais, a
ordem dos procedimentos importa. Primeiro se denuncia à
exaustão o suposto conluio; depois, se for o caso, parte-se para a
ação. Mais à frente, num foro
adequado, devem ser discutidas
as provas que Bogotá afirma ter
recolhido sobre uma aliança entre Chávez, Correa e as Farc contra o governo legítimo da Colômbia. Agora o momento é de sanar
os estragos diplomáticos da violação de soberania cometida por
militares colombianos.
Foi leviana, a propósito, a atitude de Chávez de enviar tropas
para a fronteira com a Colômbia.
Enquanto a diplomacia mundial
se empenha em facilitar o entendimento entre a Colômbia e o
Equador, o caudilho de Caracas
conseguiu superar-se em termos
de irresponsabilidade e tornou a
situação ainda mais explosiva.
Nessa crise, a palavra "guerra"
saiu apenas de sua boca -e, claro, da pena ociosa do ditador
aposentado Fidel Castro.
Se é pouco provável que essa
crise degenere num conflito armado, é prudente preveni-lo. Cabe à diplomacia e aos chefes de
Estado de países como Brasil,
Argentina e Chile trabalhar para
que a situação se normalize. O
caminho é convencer Bogotá a
reconhecer o erro e comprometer-se a não repeti-lo. Já os países vizinhos precisam auxiliar a
Colômbia no combate às Farc.
Nada justifica o apoio aberto ou
velado a uma organização criminosa que seqüestra e assassina.
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