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ELIANE CANTANHÊDE
"Trombetas de guerra"
BRASÍLIA - O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, determinou
seu isolamento na América do Sul
depois de violar ostensivamente o
território do Equador para atacar as
Farc e matar o segundo homem da
guerrilha, Raúl Reyes.
A Venezuela, a Bolívia e, claro, o
Equador já seriam naturalmente
contra Uribe. Mas se somaram a
eles os moderados Chile, Argentina
e Brasil, líder da região.
Há, porém, diferenças abissais
entre o comportamento beligerante de Hugo Chávez e o negociador
de Lula. Chávez chamou Uribe de
"criminoso", retirou os embaixadores e acionou dez batalhões do
Exército para a fronteira com a Colômbia. Lula chamou o chanceler
Celso Amorim e a diplomacia.
O Brasil, assim, se esforça em
duas frentes nessa ameaça (real, diga-se) de guerra na região. O primeiro é mediar um pedido de desculpas da Colômbia. O segundo é
evitar que a Venezuela se aproveite
do erro grosseiro de Uribe para botar fogo, literalmente, na região.
A arma do Brasil é a OEA (Organização dos Estados Americanos),
que anda muito sumida ultimamente, mas será muito oportuna
agora. Reunidos num foro comum,
os países da região podem não só
mediar o confronto como "frear
Chávez". Sai o unilateral, entre o
multilateral, impedindo que o venezuelano aja pela própria cabeça e
empurre seus seguidores, como o
próprio Correa e o boliviano Evo
Morales, para aventuras perigosas.
O clima é "gravíssimo", como admitiu Amorim em nome do governo brasileiro. E, para Fidel, são "as
trombetas de guerra". O pior é que,
a cada crise, a situação só piora.
O fundamental agora é que Uribe
peça desculpas de fato ao Equador,
e não apenas para inglês ver. Mas,
depois, Rafael Correa deverá explicar também como e por que as Farc
têm tamanha desenvoltura dentro
do território equatoriano. Afinal,
trata-se de uma guerrilha narcotraficante contra um governo constitucionalmente eleito.
elianec@uol.com.br
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