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CLÓVIS ROSSI
Não cabe neutralidade
MADRI - Marco Aurélio Garcia, o
assessor diplomático do presidente
Lula, disse à rádio CBN que o governo "vai mobilizar toda a força da diplomacia brasileira e de outras capitais sul-americanas para reduzir
ao máximo a tensão [Colômbia/Venezuela] e procurar encontrar uma
solução duradoura".
Ótimo. Mas convém ter claro que
o Brasil pode -e deve- ser neutro
entre os dois vizinhos, mas não pode -nem deve- ser neutro entre o
governo colombiano (legítimo) e as
Farc (um grupo delinqüente).
Mesmo sobre Hugo Chávez, vale
a observação do especialista argentino Juan Gabriel Tokatlián à
Folha: a reação de Chávez foi um
"gesto intempestivo, inusualmente
desproporcional" (o "inusualmente" é gentileza de Tokatlián).
Se se quer "solução duradoura",
convém ter igualmente claro o que
escreveu um íntimo aliado de Lula,
o ex-presidente José Sarney: aceitar as ações das Farc "como parte
de um estilo normal do jogo político é atribuir valores a um simples
exercício do terrorismo. É, no mínimo, uma velada solidariedade
com esse modo de tortura".
Perfeito. Não se trata, como quer
Chávez, de um "grupo beligerante",
nem mesmo de um grupo terrorista, se se aceitar que o terrorismo às
vezes busca um objetivo político,
ainda que por meios condenáveis.
As Farc há muito tempo abandonaram qualquer veleidade de ação política pela via armada para se tornarem delinqüentes que vivem do
narcotráfico e do dinheiro arrecadado com seqüestros.
A Colômbia invadir território
equatoriano é também condenável.
Mas vale, até para o Brasil, o que diz
Carlos Malamud (do Real Instituto
Elcano da Espanha): "Se os governos fronteiriços da Colômbia fizessem seu trabalho, protegessem as
fronteiras e impedissem que bandos de delinqüentes passeassem livremente por seu território, ações
[como a da Colômbia] não seriam
necessárias".
crossi@uol.com.br
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