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O preço da telefonia
Portabilidade numérica começa com falhas, mas tem grande potencial de baratear um dos serviços mais caros do mundo
A PRIVATIZAÇÃO da telefonia no Brasil, nem
mesmo o mais ideológico dos críticos poderia negar, universalizou o acesso
a esse requisito básico da vida
contemporânea. Passada uma
década, o país conta hoje com 41
milhões de assinaturas na telefonia fixa e 152 milhões na móvel.
No que toca a qualidade e custo
dos serviços, porém, os resultados não são bons.
Levantamento da União Internacional de Telecomunicações
(UIT) mostra que o Brasil tem
uma das telefonias mais caras do
planeta. O fenômeno se exacerba, estranhamente, no caso dos
celulares. Tornaram-se ferramenta de comunicação e trabalho indispensável e disseminada
e, apesar disso -contrariando a
lógica econômica que vincula aumentos de escala a preços baixos-, ainda têm peso abusivo no
orçamento doméstico.
Para ter e usar um celular, o
brasileiro compromete em média 7,5% da renda per capita nacional. De uma centena e meia de
nações avaliadas, o Brasil é o
114º, num ranking que começa
com os países onde o custo é
mais baixo. A linha fixa abocanha
5,9% da renda (113ª posição).
A lista da telefonia móvel da
UIT vem encabeçada por Hong
Kong, Dinamarca e Cingapura,
onde se gasta mero 0,1% da renda com o serviço. A brasileira não
só aparece mal colocada como
perde feio de países de sua categoria de desenvolvimento. Na
América Latina, argentinos destinam só 2,5% da renda ao celular, e mexicanos, 2,2%. Rússia
(1,4%), China (1,8%) e Índia
(2,1%), de envergadura comparável ao Brasil, também aparecem
na nossa frente.
A raiz dessa disparidade de
preços se encontra num déficit
de regulação. A Agência Nacional
de Telecomunicações -primeira
agência reguladora a ser instalada no Brasil- não tem feito o
bastante para incentivar a concorrência entre as operadoras e,
com isso, baratear a telefonia.
Ainda deve à sociedade os "serviços adequados, diversificados e a
preços justos" consignados em
sua missão oficial.
A chamada portabilidade numérica -direito do assinante de
trocar de operadora sem o inconveniente de mudar seu número
de telefone- parece instrumento óbvio de uma política de telecomunicações que tenha foco no
consumidor, e não tanto nas empresas. Demorou demais, contudo, para ser adotada. Só em setembro de 2006 a agência deu
início ao processo indesejado pelas gigantes prestadoras do serviço, com uma consulta pública.
A implantação demoraria ainda dois anos, com largada em setembro de 2008. Só se completa
agora, ao alcançar os 38 milhões
de assinantes dos últimos 362
municípios, entre eles os da
Grande São Paulo -a maior concentração de usuários do Brasil.
E não começa bem.
A própria Anatel determinou
que podem falhar no máximo 5%
dos pedidos de migração de
clientes. Um terço das solicitações, no entanto, acaba não sendo atendido no prazo máximo de
cinco dias úteis. As falhas decorreriam, alegadamente, de discrepâncias entre dados cadastrais
fornecidos pelos clientes.
A Anatel deve auditar com rigor essas alegações e fazer cumprir a medida, crucial para baratear o serviço que regula.
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