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FERNANDO RODRIGUES
Como abafar escândalos
BRASÍLIA - O ano ainda não começou no Congresso, exceto pela
agenda negativa. Na Câmara, o deputado do castelo paralisou os trabalhos. No Senado, em geral sempre mais lento, surgiu o diretor-geral e sua mansão oculta.
A solução foi a de sempre. Foram-se os anéis. Preservaram-se os dedos -e, sobretudo, a habilidade de
continuar fazendo prestidigitação
com o dinheiro público.
O deputado Edmar Moreira (ex-DEM-MG) sumiu por um mês. Ninguém se deu ao trabalho de sugerir
o corte do salário do dono do castelo pelos dias não-trabalhados. Está
tudo arranjado para o caso morrer
de morte morrida, no oblívio, sem a
punição de ninguém.
Com mais rapidez ainda, o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia,
foi expelido do cargo apenas dois
dias depois de Leonardo Souza e
Adriano Ceolin terem revelado a
casa oculta desse servidor tão querido da cúpula do Congresso.
Ambos os episódios são emblemáticos para compreender por que
a imagem do Congresso está ao rés
do chão. As excelências não estão
interessadas em resolver problemas. Só querem eliminá-los.
A força motriz dos escândalos
continua intacta. Edmar Moreira
parece enrolado com notas fiscais
esquisitas para justificar gastos extras mensais de R$ 15 mil. A dúvida
se estendeu a todos os deputados.
Exceto por alguns sem poder, a
maioria do Congresso não tem coragem de fazer o óbvio: dar acesso
público a todos esses recibos apresentados nos últimos anos e limpar
o nome dos honestos.
A covardia malandra chega ao paroxismo com Agaciel Maia. O ex-diretor-geral declarou a casa milionária ao Fisco. Em tese, teria como se
defender. Mas foi removido a jato. A
investigação ficará para as calendas. Foi como um lexotan para os
políticos, pois o fio a ser puxado
desse novelo não agradaria a muitos gatos gordos no Senado.
frodriguesbsb@uol.com.br
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