São Paulo, quarta-feira, 04 de março de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Trombose e vampirismo

SÃO PAULO - Nos últimos seis meses, pouco mais, pouco menos, quase todas as más notícias chegam do sistema financeiro, aí incluída uma seguradora como a AIG.
Pior: não se consegue chegar ao coração do problema, que, para usar expressão da ministra francesa de Economia, Christine Lagarde, é a "trombose" no sistema financeiro provocada pelo excesso de ativos ditos tóxicos.
Se programas sofisticados de computador foram usados para os joguinhos de espalhar ativos tóxicos como se fossem sadios, o lógico era supor que se poderia fazer o percurso inverso, ou seja, localizá-los, precificá-los e expulsá-los do sistema por uma das fórmulas que circulam por aí ("banco bom/banco ruim"; estatização de verdade, e não o presente "socialismo de araque", para citar Paul Krugman; ou a quebra pura e simples no caso de bancos que não representem um real risco sistêmico).
Não é o que ocorre. Injeta-se dinheiro público em quantidades intraduzíveis para cérebros humanos, decreta-se que o problema está começando a ser superado apenas para que, dias depois, a "trombose" exija nova intervenção. Toda essa situação parece distante do Brasil, cujos bancos não sofreram "trombose" (até onde se sabe).
Mas está claríssimo que, enquanto não forem desentupidas globalmente as veias do sistema, todos os países emergentes continuarão patinando. Cito o ministro da Fazenda do México, Agustín Carstens, na reunião dos ministros ibero-americanos da área: "As projeções preliminares mostram que os países industrializados terão uma demanda de recursos de cerca de US$ 6 trilhões neste ano [equivale a quase cinco "Brasis"], o que é muito grave em termos de deslocamento de recursos dos países emergentes".
Posto de outra forma: poupados da trombose, os emergentes sofrem de vampirização.

crossi@uol.com.br


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