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CLÓVIS ROSSI
Trombose e vampirismo
SÃO PAULO - Nos últimos seis
meses, pouco mais, pouco menos,
quase todas as más notícias chegam
do sistema financeiro, aí incluída
uma seguradora como a AIG.
Pior: não se consegue chegar ao
coração do problema, que, para
usar expressão da ministra francesa
de Economia, Christine Lagarde, é
a "trombose" no sistema financeiro
provocada pelo excesso de ativos
ditos tóxicos.
Se programas sofisticados de
computador foram usados para os
joguinhos de espalhar ativos tóxicos como se fossem sadios, o lógico
era supor que se poderia fazer o
percurso inverso, ou seja, localizá-los, precificá-los e expulsá-los do
sistema por uma das fórmulas que
circulam por aí ("banco bom/banco
ruim"; estatização de verdade, e não
o presente "socialismo de araque",
para citar Paul Krugman; ou a quebra pura e simples no caso de bancos que não representem um real
risco sistêmico).
Não é o que ocorre. Injeta-se dinheiro público em quantidades intraduzíveis para cérebros humanos, decreta-se que o problema está
começando a ser superado apenas
para que, dias depois, a "trombose"
exija nova intervenção.
Toda essa situação parece distante do Brasil, cujos bancos não sofreram "trombose" (até onde se sabe).
Mas está claríssimo que, enquanto
não forem desentupidas globalmente as veias do sistema, todos os
países emergentes continuarão patinando. Cito o ministro da Fazenda do México, Agustín Carstens, na
reunião dos ministros ibero-americanos da área:
"As projeções preliminares mostram que os países industrializados
terão uma demanda de recursos de
cerca de US$ 6 trilhões neste ano
[equivale a quase cinco "Brasis"], o
que é muito grave em termos de
deslocamento de recursos dos países emergentes".
Posto de outra forma: poupados
da trombose, os emergentes sofrem
de vampirização.
crossi@uol.com.br
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