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CARLOS HEITOR CONY
Esses temíveis vilões
RIO DE JANEIRO - Já vivi o bastante para temer os vilões de cada
temporada, desde o ar encanado,
que em criança me obrigavam a evitar, até a manteiga, produto animal
que dava câncer, infartos, embolias,
o diabo. Houve época em que lá em
casa só se usava margarina, produto
natural e sem gosto.
Havia estatísticas provando a
malignidade da manteiga e a excelência da margarina. Os tempos
mudaram, e a situação se inverteu.
Manteiga hoje é saudável, e a margarina é suspeita de fazer mal.
Com o açúcar -outro vilão-
houve campanhas ferozes a favor
dos ciclamatos, que, por sua vez,
tempos depois foram suspeitos de
provocar doenças mortais. Lembro
o conselho de uma revista que publicava uma seção dedicada à saúde:
condenava o ovo, atribuindo-lhe
malefícios vários. Hoje o ovo está
reabilitado, para gáudio dos cariocas, que têm no ovo frito uma de
suas predileções culinárias.
O vilão de nosso tempo, pelo que
vejo por aí, não é alimentar, mas
elementar. O saco de plástico abandonado nas ruas e nas praias é responsável pelo potencial aquecimento do planeta que acabará com
a nossa civilização. É suspeito até
mesmo de exercer alguma influência maléfica nos terremotos e tsunamis que agridem a Terra.
Não chego ao ponto de considerar que sacos de plástico sejam uma
ameaça ao equilíbrio cósmico do
universo em que somos obrigados a
viver. Milhões de mundos acabaram sem que o plástico e o seu devido saco fossem inventados.
O cigarro é um dos vilões mais temidos do nosso tempo. Há razão e
motivo para isso. A medicina acusa
o tabagismo de quase todos os males que levam o homem a morrer.
Mesmo assim, há gente que duvida
dessa certeza científica e continua
fumando na base daquele velho
tango, "fumando espero aquela que
mais quero".
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