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CLÓVIS ROSSI
A reconstrução do mundo
SÃO PAULO - Se há queixas e resmungos sobre a suposta ou real inação do governo Luiz Inácio Lula da
Silva, um mínimo de honestidade
exigiria dizer que, para a sua diplomacia, vale exatamente a observação
oposta: está hiperativa.
Para não mencionar o frenesi de
negociações em que funcionários
brasileiros estão envolvidos, só o
chanceler Celso Amorim acaba de
concluir um périplo em que falou
com praticamente todo o mundo que
conta no jogo.
Do papa a Igor Ivanov, o chanceler
russo, de Javier Solana, uma espécie
de chanceler da União Européia, a
vários ministros latino-americanos e
europeus, entre eles o francês Dominique de Villepin.
Fala-se de uma tarefa nada trivial:
reconstruir o mundo ou mais propriamente a governança global, a
cargo das Nações Unidas.
"A ONU não pode ser apenas uma
grande Cruz Vermelha, com todo o
respeito pela Cruz Vermelha, até porque a Cruz Vermelha faz melhor esse
tipo de trabalho", diz Amorim.
Tradução: as Nações Unidas não
podem ficar incumbidas apenas do
auxílio humanitário e da reconstrução do Iraque.
"É preciso reconstituir a barganha
inicial, em que cada um cede um
pouco, para reconstruir a governança global", diz o chanceler brasileiro.
Falta combinar as concessões de cada um com os russos, diria Garrincha, sendo que, no momento e nas
circunstâncias, os "russos" são os
norte-americanos.
Amorim bem que tentou. Como
Colin Powell estaria na Europa mais
ou menos no mesmo momento, a diplomacia brasileira fez um contato
com o segundo homem do Departamento de Estado para ver se seria
possível uma conversa entre Amorim
e Powell.
Não deu: Powell chegou depois da
partida do ministro brasileiro.
Mas o recado está dado: o governo
Lula tem duras críticas a George W.
Bush, mas quer fazer com a diplomacia americana o que chama de "avaliação conjunta" sobre a reconstrução do mundo.
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