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ELIANE CANTANHÊDE
Sessão da tarde
BRASÍLIA - Não há uma só vivalma na Câmara e no Senado que acredite
na inocência de Antonio Carlos Magalhães nos grampos da Bahia. Mas
há divergências sobre o que fazer.
Há quem queira o processo e a cassação já. Há quem defenda simplesmente deixar tudo para lá. E há uma
parcela, aparentemente crescente,
que prefere um meio-termo: puna-se,
mas sem cassar.
Essa solução parecia ontem bem
forte no Conselho de Ética do Senado
durante depoimento dos jornalistas
da revista "Isto É": o envolvimento de
ACM nos grampos (executados pelo
governo da Bahia) é evidente, mas
não há provas de que ele seja o mandante. Ah, bom! Que tal, então, uma
suspensão?
Dez entre dez senadores e deputados dizem, "off" (sem publicar seus
nomes), que ACM está frito. Mas, se é
o que se ouve, não é o que se sente no
Congresso. O clima para renúncias e
cassações é sempre quente, premente,
com as câmeras de TV em cima. O
clima que se tem hoje é morno. À espera de fatos ou de personagens que
joguem mais lenha na fogueira.
É por tudo isso que o Conselho de
Ética parece um desses filmes que,
mesmo sem que os vejamos, já sabemos ou intuímos como começam, como se desenrolam e até como podem
acabar. Sem surpresa.
Os senadores a favor da cassação
entram, perguntam, ouvem e... saem
a favor. Os que são contra também
entram e saem contra. E o depoente
pode dizer o que quiser, mas todos só
ouvirão o que bem entenderem. Porque já tiraram suas conclusões antes
mesmo da primeira palavra.
Ontem, os jornalistas mostraram o
esperado: 1) a gravação de um telefonema em que ACM, escorregadio,
admite ter vazado degravações; 2)
comparações entre declarações obtidas ilegalmente e textos enviados por
ele nos dias seguintes para autoridades. Há trechos quase idênticos.
Até agora, uns senadores pressionam pela punição, e outros empurram com a barriga. Quanto mais
tempo, melhor para ACM. E os fatos?
Fatos há aos borbotões. A questão é
vontade e coragem para decidir.
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