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GABRIELA WOLTHERS
O custo da moeda de troca
RIO DE JANEIRO - Muito se fala da herança econômica que FHC deixou
para Lula. Pouco se fala, no entanto,
sobre o espólio deixado na área de segurança pública. Talvez porque nesse
caso não exista conteúdo para ser defendido ou criticado.
Na área econômica, Pedro Malan
reinou absoluto. Deixou um legado
tão forte que o ministro Palocci diz
ser obrigado a fazer uma mudança
lenta e gradual -e coloca lenta nisso- para um novo modelo. Na Justiça, o ministro Márcio Thomaz Bastos
não tem transição a fazer. FHC acumulou nove ministros em oito anos
de governo. Foi a pasta campeã de
rotatividade, um recorde infeliz numa área estratégica. Não há política
de segurança que sobreviva a tanta
instabilidade.
Para piorar, na maioria das vezes a
pasta foi usada para fazer articulações com o Congresso -a famosa
moeda de troca-, como nas gestões
de Nelson Jobim, Iris Rezende, Renan
Calheiros e Aloysio Nunes Ferreira.
Não por acaso, todos são ou foram do
PMDB, o mesmo partido que vira e
mexe volta a pleiteá-lo como contrapartida ao apoio a Lula.
Seria exagero dizer que o governo
FHC, com seu pouco caso, é o único
responsável pela força cada vez
maior do crime organizado. Ele nada
tem a ver com o envolvimento de juízes e parlamentares com o tráfico de
drogas ou com a corrupção endêmica
das polícias estaduais.
Mas a falta de prioridade resultou,
sim, na inexistência de um plano integrado de combate ao crime, de prisões federais e de pelo menos um cadastro unificado de criminosos. Já a
reforma do Judiciário, que poderia
dar mais agilidade às decisões judiciais, foi desfigurada por lobbies. Vai
ter de recomeçar do zero.
Para que lembrar tudo isso? Porque
organizações criminosas sempre procuram brechas para se instalar. No
Brasil, encontraram um abismo de
inércia e política mesquinha. Se o governo Lula enfrenta dificuldades para deixar a sua marca na economia,
que dê recursos para que o enfrentamento ao crime se dê de igual para
igual. O país não resiste a mais quatro anos de descaso. Nem de erros.
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