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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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GABRIELA WOLTHERS

O custo da moeda de troca

RIO DE JANEIRO - Muito se fala da herança econômica que FHC deixou para Lula. Pouco se fala, no entanto, sobre o espólio deixado na área de segurança pública. Talvez porque nesse caso não exista conteúdo para ser defendido ou criticado.
Na área econômica, Pedro Malan reinou absoluto. Deixou um legado tão forte que o ministro Palocci diz ser obrigado a fazer uma mudança lenta e gradual -e coloca lenta nisso- para um novo modelo. Na Justiça, o ministro Márcio Thomaz Bastos não tem transição a fazer. FHC acumulou nove ministros em oito anos de governo. Foi a pasta campeã de rotatividade, um recorde infeliz numa área estratégica. Não há política de segurança que sobreviva a tanta instabilidade.
Para piorar, na maioria das vezes a pasta foi usada para fazer articulações com o Congresso -a famosa moeda de troca-, como nas gestões de Nelson Jobim, Iris Rezende, Renan Calheiros e Aloysio Nunes Ferreira. Não por acaso, todos são ou foram do PMDB, o mesmo partido que vira e mexe volta a pleiteá-lo como contrapartida ao apoio a Lula.
Seria exagero dizer que o governo FHC, com seu pouco caso, é o único responsável pela força cada vez maior do crime organizado. Ele nada tem a ver com o envolvimento de juízes e parlamentares com o tráfico de drogas ou com a corrupção endêmica das polícias estaduais.
Mas a falta de prioridade resultou, sim, na inexistência de um plano integrado de combate ao crime, de prisões federais e de pelo menos um cadastro unificado de criminosos. Já a reforma do Judiciário, que poderia dar mais agilidade às decisões judiciais, foi desfigurada por lobbies. Vai ter de recomeçar do zero.
Para que lembrar tudo isso? Porque organizações criminosas sempre procuram brechas para se instalar. No Brasil, encontraram um abismo de inércia e política mesquinha. Se o governo Lula enfrenta dificuldades para deixar a sua marca na economia, que dê recursos para que o enfrentamento ao crime se dê de igual para igual. O país não resiste a mais quatro anos de descaso. Nem de erros.


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