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CLÓVIS ROSSI
A classe média e a herança
BRUXELAS - Um par de anos atrás, John Sweeney, o principal dirigente
sindical norte-americano, ensinou,
em palestra em Davos, que as razões
da riqueza americana não eram decorrentes do modelito ortodoxo, neoliberal ou como se queira chamar.
Vinha de motivos bem mais estruturais. Citou os clássicos (tamanho
do território, riquezas naturais, um
sistema educacional portentoso) e
encaixou entre eles o fato de haver
uma imensa classe média.
A "aula" de Sweeney me veio imediatamente à cabeça ao ler os dados
do "Atlas da Exclusão Social - Os Ricos no Brasil", lançado dia 1º.
O "Atlas" mostra, entre tantos outros números, que a classe média empobreceu 17%, entre 1992 e 2001 e que
aumentou o número de pessoas que
vivem em famílias pobres.
Ou, posto de outra forma: os anos
que marcam o auge das reformas ditas neoliberais no país só fizeram empobrecer a classe média e aumentar o
número de pobres.
Nesse ponto, não há como discordar do governo do PT quando diz
que recebeu uma "herança maldita".
Pena que persevere com fúria de cristão-novo na senda que ajudou a gerá-la e que passa de governo para governo desde o descobrimento.
Mas voltemos à classe média e à lição de Sweeney: fica claro, pelo
"Atlas", que o Brasil, em vez de se
aproximar de um dos fatores que fizeram a grandeza dos EUA, está se
distanciando mais e mais.
É um problema econômico, é um
problema social, mas é também um
problema político: a pressão da classe
média brasileira explica, em boa medida, o fato de a universidade pública
ser (ainda) melhor que a privada, na
média, ao passo que no ensino fundamental ocorre o contrário, sempre
na média.
O filho da classe média vai à escola
superior pública e pressiona para que
se mantenha em bom nível (ou decaia pouco), o que não ocorre no ensino básico público, que é para o pobre, que não pressiona ou pressiona
pouco. Menos classe média é igual a
menos pressão, maior decadência e
mais distância do paraíso.
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