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POLÍTICA INDUSTRIAL
Política de estabilização não é
sinônimo de política econômica. Todavia, no discurso das autoridades governamentais, e sobretudo
na sua prática, há anos esse tem sido
o padrão no Brasil. Não é por acaso
que os resultados favoráveis no combate à inflação têm sido acompanhados por um ritmo de crescimento da
atividade produtiva muito aquém do
desejável, com concomitante elevação do desemprego e desgaste do
poder de compra da população.
Essa é justamente a razão pela qual
deve ser visto com bons olhos o
anúncio de uma política industrial,
tecnológica e de comércio exterior
feito pelo governo federal na quarta-feira -embora não se justifique que
o projeto só tenha sido ultimado 15
meses após o início do governo.
Um nível razoável de estabilidade
de preços é condição necessária para
amortecer as incertezas, tornando o
ambiente econômico mais propício
ao investimento e, portanto, ao crescimento. No entanto -como esta
Folha tem argumentado-, uma taxa de inflação baixa não é condição
suficiente para animar os empresários a investir. Isso é ainda mais verdadeiro quando a inflação vai sendo
contida por meio da manutenção de
taxas de juros altíssimas, com severos prejuízos às condições de financiamento dos investimentos.
A política industrial apresentada
pelo governo centra-se no oferecimento de estímulos a quatro setores:
bens de capital, software, semicondutores e fármacos. São segmentos
com papel central no processo de
inovação e na difusão do progresso
técnico, além de peso na balança comercial. A intenção é colher frutos a
médio e longo prazos na forma de
ganhos de produtividade com potencial para influenciar positivamente
outros setores da economia.
É fundamental, como previsto, que
os estímulos concedidos sejam rigidamente monitorados. Os benefícios devem ter prazos estipulados e
os beneficiados precisam cumprir
metas e apresentar resultados. O país
já pagou caro pela ineficiência gerada por incentivos concedidos de forma descontrolada. A nova política
industrial requer também ações
coordenadas entre vários ministérios, algo que o governo tem demonstrado dificuldades para praticar. Resta saber ainda se os recursos
anunciados efetivamente aparecerão
ou se estaremos diante de mais um
programa anunciado com pompa
para ser rapidamente esquecido.
Se o foco da política industrial parece adequado, ela deveria ser acompanhada por iniciativas específicas
voltadas a outros setores, que poderiam render frutos em prazo mais
curto. A questão básica, neste campo, seria auxiliar a reestruturação de
cadeias produtivas com tradição exportadora (como a da siderurgia e a
calçadista) ou que se tornaram altamente deficitárias no comércio exterior (como bens de consumo duráveis, de informática e de equipamentos de telecomunicações), de modo a
permitir que o crescimento do mercado interno não redunde numa erosão excessiva do superávit comercial.
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