São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Presidente municipal

RIO DE JANEIRO - Nada confortável a posição de Lula na atual crise que ele atribui a episódio eleitoral, explorado pela oposição para conquistar prefeituras e vereadores ainda neste ano.
Além de primária, a avaliação que o presidente tem da crise revela a dimensão de sua perspectiva política. Quando candidato, muitos temiam a sua eleição pelo fato de não possuir uma escolaridade óbvia e, nesse particular, por diversas vezes critiquei esse temor: presidente não precisa ser sábio nem doutor. Sócrates e Cristo mudaram a história da humanidade, não tinham diplomas e nada deixaram escrito.
Mas o currículo de Lula, se é comovente e maravilhoso do ponto de vista pessoal, no terreno político é mesquinho, bitolado pelas lutas sindicais, necessárias sem dúvida, mas limitado a uma parcela da problemática de um chefe de Estado.
De sua experiência na vida pública, sabemos que foi deputado por uma legislatura, não quis se reeleger e, entre os motivos de seu desamor pelo mandato legislativo, ficou aquela frase que ele hoje deve renegar, a de que no Congresso havia centenas de malandros ou coisa equivalente.
Nunca administrou um orçamento, a não ser o doméstico, mesmo assim é ajudado por amigos desinteressados que estão ali para isso mesmo: ajudar. Não foi vereador, prefeito, governador, nunca teve uma chaminé para manter acesa, uma folha de pagamento para lhe tirar o sono.
Bem verdade que, com a genialidade que lhe atribuem, ele poderia dar a volta por cima e ser o melhor presidente de nossa história, com a sua intuição, seus bons propósitos, sua honestidade individual.
Mas está caindo na vala da mais deprimente banalidade ao repetir a mesma lengalenga de políticos que estão longe de possuir uma biografia brilhante como a sua.
A desculpa que agora apresenta é própria de prefeitos provincianos cujo horizonte político é balizado apenas pela caça de votos.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Auto-ajuda
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Brasil, um país privilegiado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.