São Paulo, domingo, 04 de abril de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Brasil, um país privilegiado

Quanto mais leio sobre agricultura, mais me encanto com o Brasil. Recomendo a leitura de uma reportagem sobre o assunto publicada pela revista "Veja" de 3 de março de 2004.
Como somos privilegiados em matéria de agricultura! O Brasil possui uma área de 850 milhões de hectares, dos quais 282 milhões são usados pela agropecuária. Há ainda 106 milhões de hectares para serem explorados. É uma imensidão de terra!
Das áreas cultivadas, cerca de 220 milhões de hectares são usados para a pecuária e apenas 62 milhões para as lavouras. Temos muito o que expandir, mesmo porque as tecnologias modernas permitem produção crescente com área decrescente.
Mas as tecnologias devem ser utilizadas com cuidado. Feliz é o país que pode usá-las criteriosamente e, ao mesmo tempo, dar descanso à terra. É o nosso caso.
Dentre os principais produtos consumidos no mundo, 70% são compostos por milho (37%), arroz (22%) e soja (10%). O restante (30%) refere-se ao trigo.
Nos três primeiros produtos, o Brasil tem dado um show de produtividade e pode melhorar muito. Mesmo no caso do trigo, os avanços são significativos. Hoje, produz mais de 50% do consumo nacional. A safra de 2003 foi de 5 milhões de toneladas. A área plantada aumentou 16% em relação à de 2002. Podemos chegar à auto-suficiência em poucos anos e até continuar a exportar os excedentes da produção.
Dos 106 milhões de hectares disponíveis para a agropecuária, cerca de 16 milhões foram usados em produção passada. A maior parte do solo se tornou improdutiva devido aos maus-tratos. Restam, porém, 90 milhões de hectares! São áreas virgens, que nunca produziram e que estão com sua potencialidade total.
Comparados com os americanos, estamos no paraíso. Naquele país não há um só metro quadrado de terra disponível para a agropecuária. Imagine a inveja que eles têm de nós ao saber que possuímos nada mais, nada menos do que 106 milhões de hectares para a exploração agrícola!
O que não dá para entender é essa desordem que se alastra no campo por disputas de terra. O governo federal decidiu liberar quase R$ 2 bilhões para facilitar o assentamento das famílias que demandam trabalho agrícola. Foi uma importante decisão.
Mais importante do que isso é usar bem o dinheiro. Entre assentar uma família e torná-la produtora vai uma grande distância. Mas, dada a nossa extensão territorial, o Brasil tem tudo para acomodar essas famílias e, ao mesmo tempo, criar milhões de empregos indiretos no interior como decorrência dos avanços na agricultura moderna. Não há contradição nessa equação. Tecnologia e emprego podem contribuir para criar empregos em outros setores da economia (em particular, no comércio e nos serviços locais) e para gerar receitas para investimentos públicos que, por sua vez, demandam muito trabalho. São as virtudes indiretas da produção agropecuária.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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