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ANTONIO DELFIM NETTO
"Requiescat in pace"
PARA ALGUNS economistas a
maior surpresa revelada pelas
novas estimativas de crescimento do PIB foi o aparente aumento da Produtividade Total dos
Fatores -PTF (mão-de-obra e capital). Trata-se de um "requiescat
in pace" para essa misteriosa componente calculada como resíduo
na contabilidade do crescimento.
O problema com o conceito de
"produto potencial" é que ele é resultado de uma curva de oferta (de
uma função de produção) produzida por um estoque fixo de capital
(que a rigor ninguém sabe direito o
que é) e por uma quantidade de
mão-de-obra determinada, no
mercado de trabalho, pelo encontro da oferta de mão-de-obra (os
que podem e desejam trabalhar para cada nível de salário) com a demanda de mão-de-obra (determinada pela produtividade marginal
do trabalho). Não há, no produto
potencial, papel para o fator de
produção decisivo: o empresário,
como já sabia em 1725 o velho Cantillon. O empresário, mesmo no
curto prazo, move-se por incentivos (perspectiva de lucro) e faz mover, com incentivos, a oferta e a demanda de trabalho, além de usar
mais ou menos intensivamente o
estoque de capital.
Oferta global e demanda global
não são totalmente independentes, mesmo quando o estoque de
mão de obra e o estoque de capital
parecem fixos. Se houver "expectativa" de lucro (ou seja de mais demanda) o empresário mobiliza a
força de trabalho oferecendo novos
estímulos que aumentam o seu esforço, aumentam a participação feminina e aumentam a oferta dos
"desacorçoados" (diminuindo o nível de desemprego). O mesmo
acontece com o uso do estoque de
capital que é mobilizado em novos
turnos juntamente com a mão-de-obra, desde que haja "expectativa"
de lucro. É claro que esse movimento tem um limite no estresse
que vai produzindo na utilização
do estoque dos fatores e que, na
margem, pode elevar os custos.
Mesmo esses serão, em parte, compensados pelo inevitável aumento
da Produtividade Total dos Fatores
quando aumenta o nível da produção, como mostra a velhíssima lição de Verdoorn-Kaldor.
É por isso que a política monetária deve ser uma salada de "boa teoria" muito bem temperada com
"arte" para não abortar a ação do
empresário quando ele vê a possibilidade de expansão da demanda e
de novos lucros. O uso abusivo de
um metafísico "produto potencial"
tornou-se um efeito constritor do
"produto atual"! É inútil, mas indispensável dizer que isso está longe de sugerir transacionar um
"pouquinho mais de inflação" por
um "pouquinho mais de crescimento".
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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