|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Raios
RIO DE JANEIRO - Uma amiga
minha, paulistana, não vem ao Rio
há anos. Tem medo de balas perdidas. Tento convencê-la de que não é
bem assim, que o Rio a receberá de
braços abertos e que as probabilidades de ela ser achada por uma bala
são menores do que de ser atingida
por um raio.
Mas neca. Minha amiga não acredita e, apesar de lidar com uma editora e com literatura, mantém-se à
distância do Rio. Com isso, deixa de
desfrutar de livrarias muito bonitas, de participar de uma Bienal que
cai de charme e de visitar alguns dos
nossos marcos, como o Real Gabinete Português de Leitura, a Confeitaria Colombo, o Triângulo das
Sardinhas e outros que ela só conhece da novela.
Sem falar na chance de encontrar
escritores que só vê quando eles se
embecam e vão a São Paulo a trabalho. No Rio, minha amiga poderia
observá-los no seu habitat natural,
de chinelo e bermudas, sentados
nos cafés ou apenas zanzando pelas
ruas. Creio que essa expedição teria
até um certo valor antropológico.
Mas ela não se convence.
Enquanto isso, os jornais acabam
de dar uma notícia surpreendente:
São Paulo é o Estado brasileiro mais
afetado anualmente por raios. O
município campeão é São Caetano,
aí ao lado, com uma média de 12
raios por km2. Outros favoritos entre os dez primeiros são Suzano,
com 9,27, e Santo André, com 8,71.
A própria cidade de São Paulo não
faz feio: recebe 8,14 raios por km2.
No Estado e na capital, morreram em São Paulo neste ano, até
agora, sete pessoas atingidas por
raios. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Já
nossas balas perdidas contavam
cinco vítimas fatais até ontem. Espero que minha amiga não tenha
medo de raios. Mas, se tiver, pode
vir se proteger no Rio. De nosso céu
de brigadeiro, caem pífios 3,97
raios, e olhe lá.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Apagão informativo Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: "Requiescat in pace" Índice
|