São Paulo, quarta-feira, 04 de abril de 2007

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RUY CASTRO

Raios

RIO DE JANEIRO - Uma amiga minha, paulistana, não vem ao Rio há anos. Tem medo de balas perdidas. Tento convencê-la de que não é bem assim, que o Rio a receberá de braços abertos e que as probabilidades de ela ser achada por uma bala são menores do que de ser atingida por um raio.
Mas neca. Minha amiga não acredita e, apesar de lidar com uma editora e com literatura, mantém-se à distância do Rio. Com isso, deixa de desfrutar de livrarias muito bonitas, de participar de uma Bienal que cai de charme e de visitar alguns dos nossos marcos, como o Real Gabinete Português de Leitura, a Confeitaria Colombo, o Triângulo das Sardinhas e outros que ela só conhece da novela.
Sem falar na chance de encontrar escritores que só vê quando eles se embecam e vão a São Paulo a trabalho. No Rio, minha amiga poderia observá-los no seu habitat natural, de chinelo e bermudas, sentados nos cafés ou apenas zanzando pelas ruas. Creio que essa expedição teria até um certo valor antropológico. Mas ela não se convence.
Enquanto isso, os jornais acabam de dar uma notícia surpreendente: São Paulo é o Estado brasileiro mais afetado anualmente por raios. O município campeão é São Caetano, aí ao lado, com uma média de 12 raios por km2. Outros favoritos entre os dez primeiros são Suzano, com 9,27, e Santo André, com 8,71. A própria cidade de São Paulo não faz feio: recebe 8,14 raios por km2.
No Estado e na capital, morreram em São Paulo neste ano, até agora, sete pessoas atingidas por raios. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Já nossas balas perdidas contavam cinco vítimas fatais até ontem. Espero que minha amiga não tenha medo de raios. Mas, se tiver, pode vir se proteger no Rio. De nosso céu de brigadeiro, caem pífios 3,97 raios, e olhe lá.


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