São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
FERNANDO DE BARROS E SILVA Fala tudo, Bolsonaro! SÃO PAULO - O deputado Jair Bolsonaro é um tipo fascistão. Truculento, homofóbico, lida mal com as diferenças e os valores democráticos. Os gays, em particular, parecem deixá-lo "maluca" de raiva. Sabe-se que indivíduos muito hostis ou agressivos, que se sentem ameaçados pela existência de homossexuais, costumam ser enrustidos. O ódio projetado no outro é apenas um sintoma, uma defesa contra si mesmo. Mas quem seria eu para suspeitar que existe uma "Jairzona" enjaulada na alma do capitão? O ser humano é complexo. A polêmica envolvendo esse personagem de almanaque tomou, no entanto, outro rumo. Discute-se se ele, com suas palavras, praticou o crime de racismo e os limites da liberdade de expressão no país. Preta Gil lhe perguntou: qual seria sua reação se um de seus filhos namorasse uma negra? E ele: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Meus filhos foram muito bem educados. Não viveram em ambiente como lamentavelmente é o seu". Digo logo: um país em que Bolsonaro não fosse eleito deputado tenderia a ser um lugar melhor. Mas pretender cassá-lo ou condená-lo por racismo em função dessa fala me parece um grande equívoco. Não só porque seria a melhor maneira de transformá-lo em vítima. Mas, sobretudo, porque o que ele fez foi apenas manifestar a sua opinião. Grosseira, retrógrada, mas que representa uma parcela da sociedade. A liberdade de expressão nos garante a possibilidade de falar o que quisermos (nos limites da lei), mas também nos obriga a ouvir o que nos desagrada. Bolsonaro incitou o racismo? E se ele fosse um negro e dissesse que não gostaria de ver sua filha casada com um branco? Seria racista? Devemos ser bastante restritivos em relação a atos racistas. Mas seria bom que fôssemos também mais elásticos e liberais em relação às palavras. Temos deficit de cultura democrática. Deixem Bolsonaro falar. Ele é o seu maior inimigo. Texto Anterior: Editoriais: Classe média em alta Próximo Texto: Brasília - Melchiades Filho: Aperte os cintos Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |