São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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CLÓVIS ROSSI

As duas acareações

BELO HORIZONTE - Envolvido em um seminário sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), acompanhei apenas breves momentos da acareação entre os senadores Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda e a funcionária Regina Borges.
Mas não creio que tenha perdido grandes coisas. Até porque o que importa não é o que tenham dito ou deixado de dizer os três personagens, mas o julgamento do público e da mídia. Atrevo-me a supor que o julgamento não será muito diferente do que fizeram os internautas do UOL consultados sobre quem está dizendo a verdade. Até 17h, 93% diziam que era a funcionária. Só 6% acreditavam em ACM e menos ainda (2%) em Arruda.
Portanto, a menos que os senadores queiram desmoralizar ainda mais uma Casa já bastante machucada, não têm mais remédio que não abrir o processo de cassação dos dois senadores.
Enquanto isso não ocorre, faço uma breve observação sobre uma outra acareação, que me parece infinitamente mais relevante. É cada vez mais evidente que os diplomatas brasileiros sentem-se inseguros na negociação sobre a Alca.
Já ouvi de três embaixadores, em momentos diferentes, a queixa de que são acusados, internamente, de "entreguistas", enquanto, nos EUA, são criticados por supostamente emperrar a Alca.
A insegurança decorre do fato de que "evidentemente não há consenso (no Brasil) sobre a Alca", como diz o chanceler Celso Lafer.
Se é assim, o governo e a sociedade organizada têm o dever elementar de sentar à mesa e, nessa acareação, tentar um consenso mínimo. Como constata Stefan Bogdan Salej, presidente da Fiemg (a federação das indústrias de Minas Gerais), "os negociadores brasileiros serão tanto mais fortes quanto mais a sociedade lhes transmitir uma estratégia nacional".
É justamente o que falta.


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