São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2001

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ELIANE CANTANHÊDE

Desafio à inteligência

BRASÍLIA - Regina Borges recebeu uma consulta, pedido, ordem, missão, pleito ou determinação? Ela não deixou dúvidas.
Consulta: "Descarto absolutamente". Pedido: "Entre pedido e ordem, há uma tênue diferença". Ordem: "Dependendo de como o pedido chega, tem força de ordem". Também usou as palavras "pleito", "missão" e "determinação". Afinal, cumpria ordem? "Quanto a isso, não arredo."
Apesar da ênfase e da variedade de substantivos, ACM não assume nenhuma das seis palavras incriminatórias. Não consultou, não pediu, não deu ordem, não deu missão para ninguém, não avalizou pleito nenhum nem determinou nada.
José Roberto Arruda assume uma: repetiu que fez uma "consulta" à então diretora do Prodasen sobre a segurança do sistema de votação. Uma "consulta amena e tranquila". Ela é que entendeu errado e saiu feito uma celerada para quebrar o voto sigiloso dos senadores?
ACM está mais magro e abatido. Arruda, o cara-de-pau, arrancou risadas na bancada de imprensa ao impostar a voz num momento qualquer e declarar: "Com toda a franqueza...". Regina, apesar de tensa, rebateu tudo sem titubear.
Contou, inclusive, que ficou insegura quando Arruda pediu que entregasse a lista a um assessor. Não era para o então presidente do Senado? Só se tranquilizou quando o próprio ACM ligou. Segundo Regina, o telefonema foi "de agradecimento". Na versão de ACM, "para tranquilizá-la, pois ela estava muito nervosa".
No resto do tempo, a acareação girou em círculos em torno do início e do fim da história que tanto complicam a situação de ACM. Regina cometeria o crime sem uma ordem poderosa? E por que ACM telefonaria para ela imediatamente depois de receber a lista?
Essas duas perguntinhas que não calam é que podem decidir a volta do homem mais poderoso do Congresso para a Bahia, onde ele ainda é rei. A acareação só reforçou a hipótese da renúncia. E a falta de "acordão".


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