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NEGOCIAR COM FIRMEZA
A negociação que o Brasil inicia simbolicamente hoje com a
Bolívia -após a gestão Evo Morales
ter estatizado as empresas de gás e
petróleo no país e confiscado 82% do
seu faturamento- deve ser pautada,
como já se disse aqui, pela frieza do
cálculo econômico. Não há necessidade de tom belicoso nas tratativas
com o governo boliviano, mas o momento exige firmeza de propósitos e
sóbria reconsideração estratégica.
No encontro que terão hoje em Foz
do Iguaçu, Luiz Inácio Lula da Silva e
Morales -não se sabe bem o que
Hugo Chávez, que não é nem produtor nem consumidor do gás boliviano, vai fazer numa reunião dessas-,
estará em pauta o preço do metro cúbico do gás natural importado pelo
Brasil. Essa é uma variável-chave,
que decide o impacto das novas regras do negócio nas contas da Petrobras e no bolso do consumidor industrial e residencial brasileiro.
O Brasil importa perto de 25 milhões de metros cúbicos diários de
gás da Bolívia -algo como 80% de
todas as exportações bolivianas do
produto. O governo Morales não tem
outra opção de comprador para o
gás caso ele deixe de ser adquirido
por consumidores brasileiros. Já os
ramos industriais do Sul e do Sudeste mais dependentes do gás boliviano dispõem, em geral, de alternativas de troca de matriz energética no
óleo combustível, no gás de petróleo
e na co-geração (aproveitamento de
resíduos do processo industrial, como a biomassa, para gerar energia).
O gás natural vem ganhando espaço no Brasil, à custa de outros insumos energéticos, por conta de alguns fatores laterais (entre os quais o
ambiental), mas o fundamental é o
preço. Se ele subir demais, o processo de adesão ao gás se reverterá rapidamente, e o grande prejudicado será a Bolívia -aliás, todos os principais riscos da estratégia extremista
de Morales quem corre são os bolivianos, e não os brasileiros.
A condição de consumidor decisivo do gás boliviano -a expansão das
compras brasileiras é o que sustenta
o crescimento das exportações e do
PIB da Bolívia há alguns anos- tem
de estar prioritariamente à mesa nas
negociações bilaterais. Paralelamente, está correta a intenção da Petrobras de buscar em cortes de Nova
York, instância jurídica designada
nos contratos afinal rasgados pela
gestão Morales, remédios para reparar o dano a seus investimentos.
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