São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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NEGOCIAR COM FIRMEZA

A negociação que o Brasil inicia simbolicamente hoje com a Bolívia -após a gestão Evo Morales ter estatizado as empresas de gás e petróleo no país e confiscado 82% do seu faturamento- deve ser pautada, como já se disse aqui, pela frieza do cálculo econômico. Não há necessidade de tom belicoso nas tratativas com o governo boliviano, mas o momento exige firmeza de propósitos e sóbria reconsideração estratégica.
No encontro que terão hoje em Foz do Iguaçu, Luiz Inácio Lula da Silva e Morales -não se sabe bem o que Hugo Chávez, que não é nem produtor nem consumidor do gás boliviano, vai fazer numa reunião dessas-, estará em pauta o preço do metro cúbico do gás natural importado pelo Brasil. Essa é uma variável-chave, que decide o impacto das novas regras do negócio nas contas da Petrobras e no bolso do consumidor industrial e residencial brasileiro.
O Brasil importa perto de 25 milhões de metros cúbicos diários de gás da Bolívia -algo como 80% de todas as exportações bolivianas do produto. O governo Morales não tem outra opção de comprador para o gás caso ele deixe de ser adquirido por consumidores brasileiros. Já os ramos industriais do Sul e do Sudeste mais dependentes do gás boliviano dispõem, em geral, de alternativas de troca de matriz energética no óleo combustível, no gás de petróleo e na co-geração (aproveitamento de resíduos do processo industrial, como a biomassa, para gerar energia).
O gás natural vem ganhando espaço no Brasil, à custa de outros insumos energéticos, por conta de alguns fatores laterais (entre os quais o ambiental), mas o fundamental é o preço. Se ele subir demais, o processo de adesão ao gás se reverterá rapidamente, e o grande prejudicado será a Bolívia -aliás, todos os principais riscos da estratégia extremista de Morales quem corre são os bolivianos, e não os brasileiros.
A condição de consumidor decisivo do gás boliviano -a expansão das compras brasileiras é o que sustenta o crescimento das exportações e do PIB da Bolívia há alguns anos- tem de estar prioritariamente à mesa nas negociações bilaterais. Paralelamente, está correta a intenção da Petrobras de buscar em cortes de Nova York, instância jurídica designada nos contratos afinal rasgados pela gestão Morales, remédios para reparar o dano a seus investimentos.


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