São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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BOM SENSO EM GREVE

O mais heterodoxo cientista político teria dificuldade de extrair sentido da nova estratégia do ex-governador do Rio Anthony Garotinho: a greve de fome. Político com projeção nacional, ele tem amplo acesso aos meios de comunicação e mantém há anos um programa de rádio com vasta audiência. Pode defender-se com plenitude das acusações que o vêm cercando.
É difícil acreditar nas alegações do político para a greve decretada na segunda-feira. A atitude extrema decerto não é a melhor forma de responder às reportagens apontando irregularidades no financiamento de sua pré-campanha presidencial.
Tampouco deixar de comer será eficaz se a intenção do ex-governador fluminense é a de convencer os veículos de imprensa a deixarem de investigar como se dá o custeio dos principais pretendentes ao Planalto nessa fase preliminar da disputa. Trata-se de um assunto de alto interesse público, ao qual os desmandos recentes na política federal acrescentaram apelo.
Mas, se o que Garotinho pretende mesmo é estancar o processo de franca deterioração por que passam as suas chances de ser escolhido o candidato peemedebista, nem para alcançar esse objetivo a recusa à alimentação faz sentido. O efeito ameaça ser o oposto: o descompasso entre a causa e o gesto põe a nu um certo desespero do postulante, e a greve de fome pode transformar-se numa alegoria da incomunicabilidade e da pulverização que tomaram conta do PMDB.
Garotinho também condiciona o fim da abstinência alimentar à vinda de organismos internacionais para garantir a idoneidade das eleições. O evidente disparate da proposta é apenas tentativa de desviar a atenção do essencial. O ex-governador tem de explicar a origem das doações que recebeu para sua pré-campanha.


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