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BOM SENSO EM GREVE
O mais heterodoxo cientista político teria dificuldade de extrair sentido da nova estratégia do ex-governador do Rio Anthony Garotinho: a greve de fome. Político com
projeção nacional, ele tem amplo
acesso aos meios de comunicação e
mantém há anos um programa de
rádio com vasta audiência. Pode defender-se com plenitude das acusações que o vêm cercando.
É difícil acreditar nas alegações do
político para a greve decretada na segunda-feira. A atitude extrema decerto não é a melhor forma de responder às reportagens apontando irregularidades no financiamento de sua
pré-campanha presidencial.
Tampouco deixar de comer será
eficaz se a intenção do ex-governador fluminense é a de convencer os
veículos de imprensa a deixarem de
investigar como se dá o custeio dos
principais pretendentes ao Planalto
nessa fase preliminar da disputa.
Trata-se de um assunto de alto interesse público, ao qual os desmandos
recentes na política federal acrescentaram apelo.
Mas, se o que Garotinho pretende
mesmo é estancar o processo de
franca deterioração por que passam
as suas chances de ser escolhido o
candidato peemedebista, nem para
alcançar esse objetivo a recusa à alimentação faz sentido. O efeito ameaça ser o oposto: o descompasso entre
a causa e o gesto põe a nu um certo
desespero do postulante, e a greve de
fome pode transformar-se numa alegoria da incomunicabilidade e da
pulverização que tomaram conta do
PMDB.
Garotinho também condiciona o
fim da abstinência alimentar à vinda
de organismos internacionais para
garantir a idoneidade das eleições. O
evidente disparate da proposta é apenas tentativa de desviar a atenção do
essencial. O ex-governador tem de
explicar a origem das doações que
recebeu para sua pré-campanha.
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